Dengue: o que é e qual o risco de transmissão?
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Indíce
- 1. O que é?
- 2. Fatores de risco
- 3. Principais Sintomas
- 4. Possíveis complicações
- 5. Diagnóstico
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), metade da população mundial vive em áreas endémicas para dengue, estimando-se entre 100 a 400 milhões de infeções anualmente.
Esta infeção viral ocorre em regiões de climas tropicais e subtropicais, sobretudo em áreas urbanas e semiurbanas. Embora a maioria dos casos seja assintomática ou leve, a doença pode evoluir para formas mais graves e causar a morte.
Fique a saber mais sobre esta doença, como se transmite e quais os cuidados a ter quando viaja.
O que é a dengue e como se transmite?
A dengue é uma infeção viral, causada por um Flavivírus, transmitida pela picada de um mosquito da espécie Aedes aegypti ou Aedes albopictus. Esta doença é prevalente em regiões tropicais e subtropicais, devido à presença desses vetores em climas quentes.
O mosquito infeta-se por picar um humano já infetado. O mosquito fica infetado para sempre, por isso, todas as pessoas que picar vão ficar infetadas (mosquitos do sexo feminino). Estes mosquitos são também responsáveis pela disseminação de outras doenças, como zika e chikungunya. Após a picada, o vírus entra na corrente sanguínea e replica-se, causando os sintomas caraterísticos da doença.
A dengue não é transmitida diretamente de humano para humano, ainda que seja possível a transmissão materna do vírus, mas com taxas baixas. Quando uma grávida é infetada, há um risco aumentado de parto prematuro, baixo peso ao nascer e sofrimento fetal para o bebé. Também já foram relatados casos raros de transmissão do vírus através de produtos sanguíneos, doação de órgãos e transfusões.
O período de incubação é geralmente de 3 a 7 dias, podendo estender-se até aos 14 dias. Normalmente, os sintomas aparecem entre o 4.º e o 7.º dia. Mesmo quando a pessoa infetada não apresenta sintomas, pode transmitir o vírus se for picada por mosquitos.
Quanto aos tipos de dengue, existem quatro serotipos do vírus - DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4 - e é possível ser infetado por qualquer um deles. De salientar que a infeção por um serotipo não confere imunidade contra os outros, o que significa que uma pessoa pode ter dengue até quatro vezes ao longo da vida, se for exposta a diferentes tipos.
Relativamente a animais domésticos, uma revisão sistémica publicada no Jornal da Federação Internacional de Medicina Tropical refere haver evidências de que o vírus da dengue pode infetar várias espécies de animais, como morcegos, primatas, aves, bovinos, cães, cavalos, porcos, roedores, marsupiais e outros pequenos animais.
Embora a maioria das infeções em animais pareça ser limitada, pode existir a transmissão enzoótica em certos casos. No entanto, o papel dos animais na ecologia da dengue e como reservatórios potenciais ainda não está totalmente esclarecido e requer mais investigação.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco para a transmissão da dengue estão associados às áreas geográficas propícias à proliferação do mosquito transmissor do vírus. Portanto, os locais com maior probabilidade de infeção incluem:
- Regiões tropicais ou subtropicais, abrangendo partes da África, Américas, Mediterrâneo Oriental, Sudeste Asiático e Pacífico Ocidental;
- Áreas urbanas com infraestrutura sanitária deficiente;
- Locais com água estagnada, como lagoas e poças.
Além disso, ter tido uma infeção anterior aumenta o risco de desenvolver uma forma grave de dengue.
Principais sintomas da dengue
A maioria das pessoas que contrai a infeção não apresenta sintomas ou apresenta sintomas leves que duram cerca de sete dias. Quando os sintomas surgem, podem ser semelhantes aos de outras doenças, como a gripe. No entanto, algumas pessoas podem desenvolver casos graves de dengue, que podem ser fatais, necessitando de cuidados hospitalares.
Os sintomas típicos da dengue incluem:
- Febre alta;
- Dores de cabeça;
- Dores musculares;
- Dores nos ossos ou nas articulações;
- Náuseas e vómitos;
- Dor atrás dos olhos;
- Glândulas inchadas;
- Irritação na pele;
- Perda do apetite;
- Fraqueza e cansaço.
A forma grave ocorre quando a permeabilidade dos vasos aumenta, deixando passar líquido para onde não é suposto, enquanto o número de plaquetas no sangue diminui. Isso pode levar a complicações graves, como choque, hemorragia interna e até mesmo morte.
Os sinais de alerta podem surgir rapidamente, normalmente um ou dois dias após o desaparecimento da febre, e exigem atenção médica imediata. São eles:
- Dor de estômago forte e persistente;
- Vómitos persistentes;
- Sangramento nas gengivas ou nariz;
- Presença de sangue na urina, fezes ou vómito;
- Hematomas;
- Dificuldade respiratória;
- Fadiga;
- Agitação psicomotora e confusão mental;
- Sede excessiva;
- Frequência cardíaca elevada.
- Hipotensão arterial (pressão arterial baixa);
- Coma.
Pessoas com sistema imunitário comprometido, bem como as que experimentaram uma ou múltiplas infeções anteriores, são consideradas mais suscetíveis ao desenvolvimento de dengue com critérios de gravidade ou dengue severa.
Possíveis complicações
Após a infeção, algumas pessoas podem desenvolver complicações mais graves, como desidratação severa, pressão arterial baixa, problemas respiratórios, sangramento significativo, vómitos persistentes, dor abdominal intensa, disfunção ou falência de órgãos.
Os grupos que apresentam um maior risco de complicações são:
- Doentes crónicos;
- Idosos;
- Grávidas;
- Indivíduos com histórico recente de cirurgia ou lesão craniana.
Diagnóstico e tratamento da dengue
O diagnóstico é clínico, a confirmação laboratorial é feita através de exames de sangue para detetar a presença do vírus ou anticorpos. Existem igualmente testes rápidos para dengue que podem identificar anticorpos IgG, IgM, IgA e NS1 presentes no sangue já no primeiro dia de sintomas.
Além disso, a queda do número de plaquetas e o aumento do hematócrito podem ser indicativos de dengue com critérios de gravidade ou dengue severa.
Atualmente, não há tratamento específico para a dengue. O foco principal do tratamento está no alívio dos sintomas, descanso, ingestão de líquidos e aconselhamento médico durante a recuperação.
Analgésicos, como paracetamol, são comummente utilizados para controlar a dor e a febre associadas à infeção. No entanto, anti-inflamatórios não esteroides, como ibuprofeno e aspirina, devem ser evitados devido ao risco aumentado de sangramento.
Nos casos graves, a hospitalização é necessária para detetar possíveis sinais de complicações, como hemorragia interna, disfunção de órgãos e choque circulatório.
Prevenção e cuidados a ter ao viajar
A dengue é mais prevalente no Sudeste Asiático, ilhas do Pacífico, América Latina, em países como o Brasil, e África. No entanto, a doença tem-se expandido para novas regiões, incluindo surtos locais na Europa e no sul dos Estados Unidos.
A melhor maneira de evitar a infeção pelo vírus da dengue é proteger-se contra as picadas de mosquitos. Se estiver numa área considerada de risco, é importante seguir as seguintes medidas:
- Aplicar repelente de mosquitos em todo o corpo, conforme as instruções do produto, especialmente ao amanhecer e durante o pôr do sol, nas áreas expostas. As grávidas e crianças devem seguir orientações médicas específicas em relação a estes produtos;
- Evitar a acumulação de água em recipientes, como vasos ou poças;
- Usar roupas largas e de cores claras, que cubram o corpo o máximo possível;
- Utilizar redes mosquiteiras para dormir;
- Estar atento às recomendações das autoridades de saúde locais;
- Antes de viajar, procurar aconselhamento através de uma Consulta do Viajante ou ligar para o SNS 24 - 808 24 24 24.
Atualmente, existe uma vacina disponível para a dengue. Esta vacina é recomendada para pessoas entre os 6 e 45 anos que já tiveram uma infeção anterior e vivem em áreas onde a doença é endémica.
Dengue em Portugal
Não podemos dizer taxativamente que não há risco de infeção por dengue em Portugal. Se há o mosquito, há risco. Contudo, não é um risco significativo.
Em Portugal continental, os mosquitos Aedes albopictus foram identificados pela primeira vez no final de julho de 2017, mas não há evidências de transmissão do vírus.
Esse mesmo mosquito foi identificado pela primeira vez na ilha da Madeira, em 2005. Sete anos depois, ocorreu um surto de dengue nessa ilha, resultando em mais de 2 mil casos. Além disso, foram registados casos importados em Portugal continental e em outros 10 países europeus.