Parvovírus: como pode afetar a saúde de grávidas e crianças?
• 6 mins. leitura
Indíce
- 1. O que é?
- 2. Transmissão
- 3. Sintomas
- 4. Idades vs. Infeções
- 5. Complicações
O parvovírus B19, também conhecido como eritema infecioso ou quinta doença, é um vírus que afeta exclusivamente os seres humanos, distinguindo-se dos parvovírus que atingem os animais.
Este vírus é bastante comum, especialmente entre crianças em idade escolar. Nas crianças, a infeção é, geralmente, leve, enquanto nas mulheres grávidas e fetos pode ser grave.
A consciencialização sobre os sintomas e riscos, especialmente durante a gravidez, é crucial para o diagnóstico e tratamento adequado.
Continue a ler para saber mais sobre este vírus, como se transmite, quais os sintomas, quem está em risco, como é feito o diagnóstico e tratamento, bem como maneiras de prevenir a infeção, especialmente no caso de mulheres grávidas.
O que é o parvovírus B19?
O parvovírus B19 é um vírus que apresenta afinidade especial por infetar os glóbulos vermelhos em desenvolvimento, também conhecidos como precursores eritróides, na medula óssea.
Esta infeção causa uma interrupção temporária da produção dessas células. O efeito dessa interrupção só é aparente em indivíduos que não produzem glóbulos vermelhos normais.
Conhecido como a causa da parvovirose humana, este vírus não é, na maioria dos casos, motivo para preocupações.
Embora partilhem o mesmo nome, o parvovírus em humanos é diferente do encontrado em cães e gatos. O B19 só afeta humanos e transmite-se de pessoa para pessoa. Não é transmitido por animais, nem é possível os animais serem infetados por pessoas.
Cerca de 60% dos adultos são imunes ao parvovírus B19 e muitos podem não se lembrar de ter tido a infeção.
Como se transmite?
O parvovírus humano B19 causa o eritema infecioso, frequentemente designado quinta doença. Esta designação é utilizada porque é considerada a quinta infeção viral que comummente causa erupção cutânea em crianças. As quatro primeiras são o sarampo, rubéola, varicela e roséola.
O eritema infecioso afeta, sobretudo, crianças entre os 5 e os 7 anos. A transmissão do vírus ocorre, principalmente, através das secreções respiratórias, como o muco nasal e a saliva, expelidas quando uma pessoa infetada tosse ou espirra.
Estas gotículas transportadas pelo ar podem percorrer vários metros, tornando a infeção altamente contagiosa, especialmente em ambientes onde há grande concentração de crianças, como escolas.
Além disso, pode ser transmitido pelo contacto direto com essas secreções, pelo sangue ou produtos sanguíneos contaminados, bem como de uma mulher grávida para o feto através da placenta.
O período de incubação da doença é entre 4 a 14 dias e as pessoas são mais contagiosas antes da erupção cutânea ocorrer.
Quais os sintomas da infeção pelo parvovírus B19?
Inicialmente, a infeção apresenta sintomas semelhantes aos da gripe, como febre baixa, mal-estar ligeiro, dor de cabeça, dor de garganta, entre outros.
Alguns dias após os primeiros sintomas, surge uma erupção cutânea no rosto com a aparência de "bochecha esbofeteada", que pode causar comichão.
Particularmente comum em crianças, esta erupção também pode espalhar-se para os braços, pernas e tronco, onde assume um padrão rendilhado, com áreas centrais mais claras. A erupção poupa geralmente as palmas das mãos e as plantas dos pés.
Os sintomas e a erupção duram, geralmente, entre 5 a 10 dias, mas podem reaparecer passado várias semanas, especialmente após exposição ao calor, luz solar, exercício ou stress.
Em adultos, especialmente em mulheres, a infeção por parvovírus B19 pode causar dor e inchaço nas articulações (artrite não erosiva). As articulações das mãos, pulsos, joelhos e tornozelos são as mais afetadas, e a dor pode durar de semanas a meses.
Algumas crianças podem desenvolver a síndrome do exantema papulo-purpúrico em "luvas e meias", caraterizada por lesões papulares e purpúricas nas mãos e pés, muitas vezes acompanhadas de febre e lesões orais e/ou genitais.
Nem todas as crianças infetadas com parvovírus B19 apresentam sintomas visíveis.
Em casos raros, especialmente em pessoas com anemia ou imunossuprimidas, a infeção pode causar complicações mais graves, como a crise aplástica transitória, onde o corpo deixa temporariamente de produzir novas células sanguíneas.
Quem está em maior risco de ser infetado?
Qualquer pessoa pode ser infetada, mas as crianças em idade escolar são as mais propensas a desenvolver a doença.
Em países desenvolvidos, estima-se que entre 2% a 10% das crianças menores de 5 anos contraiam a infeção por parvovírus B19. Por norma, crianças saudáveis apresentam poucos ou nenhum sintoma.
Entre 1% a 5% das mulheres grávidas contraem uma infeção por parvovírus B19. Destas, cerca de 30% podem vir a transmitir o vírus ao bebé.
Complicações da infeção pelo parvovírus B19
A infeção pelo parvovírus B19 pode levar a complicações graves, especialmente em pessoas com certas condições médicas ou em situações específicas, como durante a gravidez.
Parvovírus B19 e anemia
Para pessoas com anemia, uma condição em que os glóbulos vermelhos, responsáveis por transportar oxigénio pelo corpo, são destruídos mais rapidamente do que a medula óssea consegue repor, a infeção por parvovírus pode ser especialmente perigosa.
O parvovírus B19 pode interromper a produção de glóbulos vermelhos, causando uma anemia grave. Indivíduos com anemia falciforme têm um risco particularmente elevado de desenvolver complicações sérias.
O vírus também pode causar anemia e outras complicações relacionadas em:
- Fetos de mulheres que contraem o parvovírus durante a gravidez;
- Pessoas com o sistema imunológico enfraquecido.
Parvovírus B19 e gravidez
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças identifica as grávidas como um grupo de risco, avaliado como baixo a moderado. Isto deve-se à suscetibilidade à infeção e à gravidade potencial do quadro clínico numa pequena percentagem das grávidas infetadas, além do impacto que a infeção pode ter no feto, especialmente em gestações com menos de 20 semanas.
Segundo a Direção-Geral da Saúde, o desfecho da gestação é, geralmente, favorável. A infeção pode causar complicações entre 1% a 5% dos casos, exigindo atenção especial às manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento.
O risco de complicações fetais está fortemente ligado à idade gestacional no momento da infeção, sendo maior nos primeiros dois trimestres da gravidez.
Embora seja raro, a infeção pelo parvovírus B19 durante a gravidez pode resultar em aborto espontâneo ou morte fetal, especialmente se a infeção ocorrer no primeiro ou segundo trimestre.
A hidrópsia fetal não imune e anemia fetal, que se pode desenvolver entre 8 a 12 semanas após a infeção, também constituem complicações graves. Na maioria dos fetos infetados, a infeção resolve-se espontaneamente sem consequências adversas.
Parvovírus B19 e pessoas com sistema imunológico debilitado
Pessoas com o sistema imunitário comprometido, seja por infeção pelo VIH, tratamentos de cancro ou uso de medicamentos imunossupressores para evitar a rejeição do órgão após um transplante, também estão em risco de desenvolver anemia grave devido à infeção por parvovírus B19.
Nestas situações, o vírus pode causar uma interrupção significativa na produção de glóbulos vermelhos, resultando em complicações sérias que exigem atenção médica.
Como é feito o diagnóstico e tratamento?
Para realizar o diagnóstico, o médico faz um exame físico, além de perguntar sobre sintomas e medicamentos utilizados. Normalmente, não é necessário nenhum teste, pois os sintomas podem ser ausentes ou leves.
No entanto, se houver suspeita de parvovírus B19 e existir um risco elevado de complicações, o médico pode solicitar análises ao sangue ou, raramente, de medula óssea.
Em grávidas, pode ser testado o líquido amniótico ou o sangue do cordão umbilical.
Se houver suspeita de uma infeção anterior, o médico pode verificar a presença de anticorpos no sangue. O médico pode, ainda, recomendar ecografias adicionais para monitorizar o feto.
As grávidas expostas ao parvovírus B19 devem informar o seu médico assistente de imediato.
Tratamento
O tratamento da infeção pelo parvovírus B19 depende dos sintomas e da presença de complicações.
Geralmente, o tratamento é de suporte para aliviar sintomas, como febre e dores articulares, utilizando antipiréticos e analgésicos comuns, como paracetamol ou ibuprofeno. É ainda recomendado descanso adequado e ingestão de líquidos para manter a hidratação.
Em pessoas com anemia grave, pode ser necessária uma transfusão de sangue para tratar a crise aplástica.
Pode ser considerada a administração de imunoglobulina intravenosa, em pacientes com sistema imunitário comprometido, para ajudar a combater a infeção, especialmente se houver anemia severa.
Para as grávidas, é essencial um acompanhamento médico rigoroso e a monitorização ultrassonográfica do feto para detetar sinais de hidropsia fetal ou outras complicações.
Prevenir a infeção pelo parvovírus B19
A prevenção da infeção pelo parvovírus B19 envolve medidas que ajudam a reduzir o risco de transmissão, uma vez que ainda não existe uma vacina disponível contra este vírus.
Algumas medidas que podem prevenir ou reduzir o risco de infeção incluem:
- Lavar frequentemente as mãos com água e sabão;
- Evitar contacto próximo com pessoas infetadas;
- Cobrir a boca ao espirrar ou tossir;
- Evitar tocar no nariz, boca ou olhos;
- Ficar em casa se estiver infetado.
A maioria das pessoas com infeção por parvovírus B19 recupera-se completamente sem complicações graves, não sendo necessário consultar um médico.
Se houver uma condição subjacente que pode aumentar o risco de complicações, o acompanhamento médico é obrigatório, nomeadamente, em situações de anemia falciforme, sistema imunológico debilitado e gravidez.