O ABC da diabetes: tudo o que precisa de saber
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A diabetes é uma das patologias não transmissíveis mais comuns. É uma doença crónica com incidência crescente. Atualmente, afeta aproximadamente 415 milhões de pessoas em todo o mundo, estimando-se que, daqui a 20 anos, esse número possa ascender aos 642 milhões.
Portugal é um dos países europeus com uma taxa de prevalência da diabetes mais elevada (13,3%), desde jovens de 20 anos a idosos de 79 anos.
Diabetes: uma doença crónica em crescimento
Como já referimos, a diabetes é uma doença crónica que não para de crescer, tanto no nosso país, como no resto do mundo. O facto de ser, em alguns casos, uma patologia silenciosa, pode justificar os diagnósticos tardios e uma maior dificuldade em controlar a progressão da doença.
Porém, há que ter noção de que há vários tipos de diabetes, com sintomas, caraterísticas e tratamentos muito distintos. Além disso, é importante sublinhar que, apesar de não ter cura, a diabetes pode ser controlada, desde que se sigam as recomendações médicas que passam não só pela prescrição de fármacos, como pela partilha de conselhos úteis para uma vida mais saudável.
Há três tipos de diabetes mais comuns: a Diabetes Tipo 1; a Diabetes Tipo 2; e a Diabetes Gestacional.
Diabetes Tipo 1
A Diabetes Insulino-Dependente é mais incomum e afeta, principalmente, crianças e jovens.
Na sua origem, está o facto das células ß do pâncreas não produzirem insulina, devido à destruição dessas mesmas células. A insulina é a hormona responsável por dar sinais para que o açúcar passe do sangue para o interior das células. A razão para que haja destruição das células produtoras de insulina pode estar no próprio sistema imunitário do indivíduo, já que a sua causa nada tem a ver com os hábitos de vida ou a alimentação do doente.
Como compensação, a pessoa com Diabetes Tipo 1 necessita de terapêutica com insulina. Este é um tratamento para toda a vida.
Diabetes Tipo 2
Este é o tipo de diabetes mais comum e é motivado por um desequilíbrio no metabolismo da insulina. Alguns dos seus fatores de risco são: a hereditariedade, a obesidade, o sedentarismo e a predisposição genética.
Neste tipo de diabetes, não só há défice, como resistência à insulina. Por isso, é precisa mais insulina para que a mesma quantidade de glicose entre nas células.
Se, inicialmente, podem existir valores mais elevados de insulina e valores normais de glicose, mais tarde, o desequilíbrio aumenta, aumentando também assim os níveis de glicose.
Diabetes Gestacional
A Diabetes Gestacional, como o nome indica, pode acontecer durante a gravidez. Por norma, ela manifesta-se em mulheres que não eram diabéticas, antes de engravidar, e desaparece, quando a gravidez termina.
Porém, cerca de 50% das mulheres que desenvolvem diabetes gestacional corre o risco de vir a ter, no futuro, diabetes do tipo 2, caso não tome alguns cuidados e precauções.
Estatisticamente, uma em cada 20 grávidas sofre de diabetes gestacional. Esta condição pode ser detetada através de análises. Nestes casos, é importante fazer uma dieta para corrigir a hiperglicemia, podendo ser mesmo necessário recorrer à insulina, para o bem-estar da mãe e do feto.
A diabetes gestacional pode tornar mais prováveis a gestação de bebés com mais de 4kgs à nascença; o recurso a cesariana; e, também, os abortos espontâneos.
Por essa razão, na primeira consulta de gravidez, é realizada uma avaliação da glicemia em jejum. E, na consulta entre as 24 e as 28 semanas, é feita uma Prova da Tolerância à Glicose Oral (PTGO).
Outros tipos de diabetes
Há ainda outros tipos de diabetes, menos frequentes e comuns, mas que também vale a pena conhecer:
- Diabetes Tipo LADA (Latent Autoimmune Diabetes in Adults): apresenta semelhanças com a diabetes tipo 2 e é mais frequente em pessoas entre os 35 e os 60 anos. O “tratamento” passa por um especial controlo da glicemia, podendo evoluir para um quadro em que a terapia com insulina é obrigatória.
- Diabetes tipo MODY (Maturity-Onset Diabetes of the Young): também com parecenças com a diabetes tipo 2, esta patologia pode afetar crianças, jovens e/ou adultos. Na sua origem, está uma mutação genética que causa uma alteração da tolerância à glucose.
- Diabetes Secundário ao Aumento de Função das Glândulas Endócrinas: este tipo de diabetes surge associado a outras patologias, tais como doença de Cushing, acromegalia ou gigantismo, feocromocitoma, glucagenoma.
- Diabetes Secundário a Doenças Pancreáticas: este tipo de diabetes surge associado a outras patologias, nomeadamente, pancreatite crónica, destruição pancreática por depósito de ferro denominado hemocromatose.
- Resistência Congênita ou Adquirida à Insulina.
- Diabetes Associado a Poliendocrinopatias Auto-Imunes.
- Diabetes Relacionados à Anormalidade da Insulina (Insulinopatias).
Hiperglicemia
Uma das principais caraterísticas da diabetes é, precisamente, a hiperglicemia, ou seja, o excesso de glicemia (glicose) no sangue. Esta circunstância pode ser motivada ou por uma produção insuficiente de insulina pelo organismo; ou por uma ação insuficiente da insulina no organismo; ou, ainda, pela combinação destas duas situações.
Assim, e nomeadamente através da insulina, um diabético, juntamente com a sua equipa médica, deve procurar aproximar os seus valores de glicemia dos níveis normais de referência (cerca de 80 a 110 mg/dl, antes das refeições; e 110 a 140 mg/dl, depois das refeições).
A insulina vai ajudar a que a glicose (açúcar) existente no corpo do diabético seja bem aproveitada, isto é, seja usada como fonte de energia pois, ao contrário do que se possa pensar, alguém com hiperglicemia pode sentir, frequentemente, de fadiga.
Porém, convém lembrar que, além da insulina, o diabético deve ter hábitos de vida saudáveis, como uma dieta equilibrada e personalizada, uma prática regular e moderada de exercício físico (fazer caminhadas, por exemplo) e um consumo satisfatório de água.
Hiperglicemia ocasional
É, também, importante sublinhar que a hiperglicemia nem sempre é sinal de diabetes. Existem as chamadas hiperglicemias ocasionais que podem ser causadas por situações pontuais, como:
- Consumo exagerado de hidratos de carbono;
- Stress;
- Alterações na ação da medicação;
- Períodos de doença aguda como: infeções urinárias, respiratórias, intestinais, entre outras.
Sintomas de hiperglicemia (diabetes)
Há sinais que podem indicar que temos excesso de glicemia no sangue e, eventualmente, sofremos de algum tipo de diabetes. No entanto, estes sintomas costumam atingir apenas nos casos de glicemia muito elevada. Alguns desses sintomas são:
- Urinar em quantidade e muitas vezes;
- Sentir uma sede constante e intensa;
- Ter, frequentemente, a sensação de boca seca;
- Sentir constantemente uma fome insaciável;
- Sofrer de cansaço, falta de força e fadiga;
- Sentir algum comichão no corpo, sobretudo nos órgãos genitais;
- Ter visão turva.
Hipoglicemia
A hipoglicemia é o oposto da hiperglicemia, isto é, carateriza-se por níveis muito baixos de glicose no sangue. Porém, esta condição também pode afetar diabéticos,
Nomeadamente, os que estejam a usar fármacos, como insulina ou alguns antidiabéticos orais.
As causas para este problema podem relacionar-se com: toma excessiva/incorreta da medicação e/ou jejum prolongado e/ou exercício físico inadequado.
Sintomas específicos
Os sintomas da diabetes podem variar em função da idade do paciente e, também, do tipo de diabetes.
Assim, as crianças e os jovens, que sofrem mais frequentemente de diabetes tipo 1, costumam manifestar de forma súbita e clara os seguintes sintomas:
- Urinar muito (por vezes, podem voltar a urinar na cama);
- Sentir muita sede;
- Perder peso subitamente;
- Sentir fadiga e dores musculares;
- Ter dores de cabeça, náuseas e vómitos.
Já os adultos com mais de 35 anos tendem a desenvolver diabetes tipo 2. A evidência de sintomas é mais lenta e discreta (do que nas crianças e nos jovens) e, por isso, o diagnóstico da doença pode ser tardio, não conseguindo evitar alguns danos e consequências para a saúde do indivíduo.
Alguns dos sintomas mais frequentes são fadiga, poliúria (urinar muito e com mais frequência) e sede excessiva, mas também há casos em que a pessoa não apresenta quaisquer sinais da doença.
Complicações associadas à diabetes
Uma diabetes descontrolada, ou seja, não diagnosticada, não medicada e com uma hiperglicemia muito prolongada no tempo, pode desencadear outros problemas no organismo, nomeadamente:
- Doença cardíaca e enfarte;
- Lesões renais;
- Lesões oculares;
- Lesões neurológicas;
- Problemas nos pés, como úlceras, deformações ou perda de sensibilidade;
- Doença do foro dentário;
- Disfunção sexual.
Diagnóstico
O diagnóstico de diabetes pode ser feito através de análises ao sangue ou de uma combinação de análises com sintomas.
Assim, o diagnóstico é estabelecido se:
- Tiver glicemia (açúcar no sangue) igual ou superior a 126 mg/dl, em jejum, em duas ocasiões diferentes; ou
- Uma glicemia ocasional (ou seja, sem ser em jejum) igual ou superior a 200 mg/dl, desde que associada aos sintomas clássicos de diabetes;
- Um PTOG igual ou superior a 200 mg/dl às 2 horas após a toma de 75 g de glicose; ou
- Valor de hemoglobina glicada (HbA1C) igual ou superior a 6,5%, em duas ocasiões diferentes. A HbA1C é uma forma de se medir a reação entre o açúcar circulante e a hemoglobina, sendo um valor muito útil no diagnóstico e no seguimento da diabetes.
Estes parâmetros analíticos também podem fornecer ao médico indicação de que, embora não havendo diagnóstico de diabetes, se esteja numa situação intermédia, como intolerância oral à glicose ou anomalia da glicemia em jejum.
Tratamento
A diabetes é uma doença crónica pelo que não tem cura, mas pode ser controlada através de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos. Assim, um diabético pode ter de:
- Fazer uma dieta equilibrada e personalizada;
- Praticar atividade física moderada, mas regular;
- Perder peso;
- Fazer injeções de insulina (diabetes tipo 1);
- Fazer injeções de insulina e/ou outros medicamentos (diabetes tipo 2).
Prevenção e controlo da diabetes
Prevenir a diabetes nem sempre é possível, mas há formas de, pelo menos, a manter controlada:
- Cumprir com rigor o tratamento, indicado pelo médico;
- Manter os valores da glicemia controlados, de modo a evitar complicações;
- Melhorar hábitos alimentares e emagrecer;
- Praticar exercício físico;
- Monitorizar o controlo da diabetes com recurso às análises ao sangue e à urina pedidas pelo seu médico.