Como lidar com a síndrome das pernas inquietas infantil?

A síndrome das pernas inquietas é uma condição neurológica que causa movimento involuntário e incontrolável das pernas. Ainda que mais comum em adultos, também pode afetar crianças.

Embora não seja uma doença fatal, prejudica a qualidade do sono. A falta de descanso apropriado afeta negativamente as atividades dos mais pequenos durante o dia.

Continue a ler para saber mais sobre esta condição e o que pode fazer para ajudar o seu filho a ter noites descansadas.

Síndrome das Pernas Inquietas: o que é

A Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) é um distúrbio neurológico descrito pela primeira vez, em 1672, por T. Willis. Pode ocorrer em qualquer idade e a tendência é piorar ao longo dos anos.

Em 1945, Karl Ekbom deu o nome de "pernas inquietas" à condição e diferenciou-a das dores de crescimento, observando que estas desaparecem na infância, enquanto a SPI persiste até à idade adulta.

Trata-se de um distúrbio sensorial e motor que causa uma sensação desconfortável nas pernas e um desejo irresistível de as mover, aliviando temporariamente os sintomas. Normalmente, este desconforto acontece à noite ou quando se está sentado ou deitado.

Que crianças estão mais predispostas a desenvolver SPI?

Esta síndrome está ligada a fatores genéticos, disfunção dopaminérgica e baixos níveis de ferro. Genes como MEIS1, BTBD9 e LBXCOR1 aumentam o risco de SPI em 50%. Crianças com variantes do gene BTBD9 tendem a ter níveis mais baixos de ferritina, uma proteína que armazena ferro.

Estudos citados num artigo publicado na plataforma ScienceDirect mostram que adultos com SPI têm menos ferro no líquido cefalorraquidiano, especialmente aqueles que desenvolvem a condição em idade jovem. Ressonâncias magnéticas confirmam baixos níveis de ferro em certas áreas do cérebro. A deficiência em ferro afeta a produção de dopamina, um neurotransmissor importante para o controlo do movimento.

Assim, embora qualquer criança possa desenvolver a síndrome de pernas inquietas, as crianças mais predispostas são aquelas com histórico familiar da condição, variantes genéticas específicas e deficiência de ferro. Por isso, a suplementação de ferro é frequentemente o primeiro passo no tratamento, em complemento com outras intervenções farmacológicas e não farmacológicas.

Há também uma estreita associação entre SPI e síndrome de défice de atenção e hiperatividade. Ainda que não se saiba exatamente o movimento desta associação, acredita-se que estará ligada a uma causa genética ou ambiental comum. Por exemplo, a deficiência de ferro é comum em ambas as condições.

Sintomas da síndrome das pernas inquietas infantil

Assim como os adultos, as crianças podem ter sensações desconfortáveis nas pernas que dificultam não só o adormecer como a manter o sono. É considerada uma perturbação do sono.

Os sintomas das pernas inquietas também podem afetar braços, peito e rosto, sendo descritos como:

• Formigueiro, ardor, prurido ou pulsar frequente;
• Arrepios;
• Impressão de que há água com gás dentro dos vasos sanguíneos das pernas;
• Cãibras nas pernas, especialmente nos gémeos.

Os sintomas podem variar de leves a insuportáveis, piorando à noite ou durante a noite. Mover ou esfregar as pernas pode aliviar estes sintomas.

Em crianças, estes sintomas podem ser difíceis de identificar, pois, muitas vezes, estas têm não conseguem descrever o desconforto. Alguns sinais comuns a que pode estar atento para reconhecer esta síndrome na criança são:

• Necessidade irresistível de mover as pernas, especialmente à noite;
• Dificuldade em adormecer ou manter-se a dormir;
• Sensações desconfortáveis nas pernas, que aliviam temporariamente com o movimento:
• Irritabilidade e dificuldade de concentração durante o dia devido ao sono interrompido.

Consequências deste distúrbio nas crianças

Como interfere com o sono, a SPI pode ter um impacto significativo na qualidade de vida das crianças. Podem surgir problemas de comportamento, dificuldades de concentração e aprendizagem. A longo prazo, pode afetar o desempenho escolar e as relações sociais.

O que causa esta condição?

Em muitas situações, a síndrome das pernas inquietas (SPI) não tem uma causa conhecida, sendo então chamada de idiopática ou primária. Contudo, foi identificada uma ligação genética, especialmente em famílias onde os sintomas aparecem antes dos 40 anos.

A SPI está relacionada com um problema nos gânglios da base, uma parte do cérebro que usa dopamina para controlar a atividade muscular. A redução de dopamina, causada por danos nas células nervosas, leva a espasmos musculares e a movimentos involuntários. Os sintomas tendem a piorar à noite, devido à queda natural nos níveis de dopamina nesse período do dia.

Esta síndrome também pode ser secundária a outras condições de saúde, como anemia por deficiência de ferro; doenças crónicas, como doença renal, diabetes, Parkinson, artrite reumatoide, hipotiroidismo e fibromialgia. Também pode surgir durante a gravidez, especialmente após a 27.ª semana, com sintomas geralmente a desaparecer após o parto.

Certos fatores podem piorar os sintomas, nomeadamente:

• Uso de determinados medicamentos como antidepressivos, antipsicóticos, lítio e anti-histamínicos;
• Consumo excessivo de cafeína ou álcool;
• Tabagismo;
• Obesidade;
• Stress.

Diagnóstico

Para diagnosticar a SPI em crianças, são aplicados quatro critérios essenciais usados em adultos, mas com componentes adicionais para diagnósticos definitivos ou prováveis. Os critérios para adultos são:

• Vontade de mover as pernas, geralmente devido a sensações desconfortáveis;
• Sintomas que começam ou agravam durante períodos de inatividade;
• Sintomas que são piores à tarde ou à noite;
• Alívio dos sintomas pelo movimento, como caminhar ou alongar.

A criança deve atender a todos os quatro critérios dos adultos e descrever o que sente. Se a criança não conseguir descrever os sintomas, devem estar presentes pelo menos dois dos seguintes:

• Distúrbio do sono não típico para a idade;
• Parente biológico com SPI;
• Polissonografia que mostra um índice de movimento periódico dos membros de cinco ou mais vezes por hora de sono.

Opções de tratamento

Não há uma cura definitiva para a síndrome das pernas inquietas. O tratamento concentra-se no alívio dos sintomas. Tomar um banho quente, massajar as pernas, ou aplicar compressas quentes ou frias pode acalmar os sintomas. A atividade física regular e uma boa rotina de sono também podem fazer a diferença.

Se os níveis de ferro no sangue estiverem baixos, comer mais alimentos ricos em ferro pode ajudar. O pediatra pode, ainda, recomendar um suplemento de ferro, que normalmente é a primeira escolha para tratar as crianças.

Outros medicamentos podem ser considerados, sendo a principal opção a gabapentina, medicamento que atua no sistema nervoso e pode reduzir os sintomas da SPI, se as crianças não responderem a outras medidas para controlar os sintomas.

Lidar com a síndrome das pernas inquietas infantil

Para ajudar o seu filho a lidar com as pernas inquietas, considere as seguintes estratégias:

• Compressas quentes ou frias;
• Banhos quentes;
• Alongamentos e massagens;
• Atividade física regular, evitando exercícios próximos da hora de dormir;
• Rotina de sono, mesmo nas férias e fins de semana;
• Refeições ligeiras antes de dormir;
• O tempo de ecrã deve terminar uma hora antes de dormir;
• Alimentos ricos em ferro, como carne vermelha, feijão, frutos secos e vegetais de folha verde.

Se os sintomas persistirem, é importante procurar orientação médica para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado.