menina com rosto escondido a sofrer de bullying das colegas

Bullying: sinais a que deve estar atento

8 mins. leitura

Indíce
  1. 1. O que é?
  2. 2. Sinais indicadores
  3. 3. Lidar com bullies
  4. 4. Como agir?
  5. 5. Cyberbullying

"Falar sobre bullying é também prevenir o bullying". Quem o afirma é Carolina Manta, que trabalha como psicóloga clínica com crianças e adolescentes e é formadora na área da parentalidade, saúde mental infantil e educação socioemocional.

Cada vez mais, pais e professores estão atentos e procuram prevenção e apoio para episódios de bullying. Ainda assim, "estar alerta é uma das chaves para impedir a evolução deste tipo de problemas e a educação socioemocional outra das chaves para a prevenção do mesmo" afirma a psicóloga.

Compreenda um pouco melhor este tema.


O bullying não é um conflito normal entre colegas

O bullying é um comportamento que assume múltiplas formas de violência (física ou psicológica) intencionais e repetidas. E pode ser praticado por um indivíduo (bully) ou por um grupo (bullies).

Usualmente estes comportamentos ocorrem "sem motivo aparente e no contexto de uma relação em que existe um desequilíbrio de poder entre quem agride e quem é agredido, causando sofrimento às vítimas agredidas física ou psicologicamente", explica Carolina Manta.

Um conflito entre colegas, por sua vez, "não pressupõe que se repita de forma continuada ao longo do tempo e, geralmente, há acusações e queixas e defesa de ambos os lados da discussão. Além disso, num conflito entre colegas há geralmente um motivo que explica o desenrolar do mesmo".


10 Sinais que indicam que a criança pode estar a sofrer bullying

O bullying inclui comportamentos como ameaçar, atacar, bater, partir pertences, ofender, humilhar, gozar, entre outros, e pode acontecer dentro da escola, mas também fora, nomeadamente nos espaços circundantes, nas atividades extracurriculares e na internet.

Em muitos casos as crianças vítimas de bullying permanecem em silêncio para não terem mais consequências junto dos agressores. Por isso, há alguns sinais de alerta que devemos sempre considerar, revela Carolina Manta.


"É essencial não mostrar medo, assumir uma postura e uma comunicação o mais assertiva possível e denunciar sempre estas situações a um adulto"

rapariga jovem a ser apontada pelos colegas da turma

Conheça 10 situações a que deve estar atento, pois podem indicar que o seu filho está a sofrer bullying:

  • Surgir com a roupa ou objetos escolares danificados ou "perdê-los" frequentemente, sem conseguir explicar muito bem como aconteceu;
  • Apresentar hematomas ou feridas sem uma explicação coerente para elas ou sem querer explicar como aconteceu;
  • Escolher frequentemente um percurso diferente do habitual para ir e voltar da escola;
  • Choro fácil e descontextualizado;
  • Pedir mais dinheiro a familiares do que o habitual para as rotinas conhecidas pela família;
  • Falar pouco da escola ou dos colegas;
  • Isolamento; evitar determinadas situações sociais com pares (por exemplo, festas de aniversário, encontros de amigos, almoçar na cantina…);
  • Medo e ansiedade persistentes mesmo depois do problema estar resolvido, ansiedade generalizada que muitas vezes se manifesta através de sintomas físicos (dores ou dificuldades em respirar, por exemplo);
  • Dificuldade de concentração, apatia, baixo sentido de autoeficácia e o desenvolvimento de um estilo de comunicação mais passivo;
  • Baixa autoestima, dores de estômago ou cabeça frequentes, alterações de humor súbitas, maior agitação e ansiedade em relação a tudo o que diga respeito à escola ou a um grupo específico.

"Ao longo do desenvolvimento infantil, incentivar as crianças e jovens a praticar atividades prazerosas, que estimulem a autoconfiança"
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Ensine o seu filho a lidar com os bullies

Quanto mais informação, dada de forma adequada e consciente, às crianças mais preparadas estão para gerir comportamentos de bullying que possam surgir. Por isso, "os pais devem sempre reforçar a mensagem de que o bullying é inaceitável e garantir que as crianças sabem como partilhar, procurar ajuda e identificar sinais de que se encontram nessa situação", explica a psicóloga, acrescentando "conselhos sobre como lidar com um bully devem ser transmitidos" e exemplifica, a criança deve dizer "pára" "não quero que me faças isso" de forma direta e confiante ou ir simplesmente embora, e rodear-se de adultos ou de outros grupos de crianças com quem se sinta confiante.

Carolina Manta refere que é essencial "não mostrar medo, assumir uma postura e uma comunicação o mais assertiva possível e denunciar sempre estas situações a um adulto", advertindo "nunca incentivem a criança a responder da mesma forma ao bully, pois isso "só gera mais violência e aumenta a ansiedade da criança em todos os confrontos".

É importante também, "ao longo do desenvolvimento infantil, incentivar as crianças e jovens a praticar atividades prazerosas, que estimulem a autoconfiança e que lhes permitam perceber que conseguem adaptar-se a várias situações e fazer diferentes grupos de amigos".

Além disso, podem utilizar momentos de brincadeira e conversa com a criança para ajudar a desenvolver competências socioemocionais importantes e fundamentais no desenvolvimento que são muito úteis perante este tipo de situações como a regulação e gestão emocional, a empatia, a comunicação e a resolução de problemas.

Aproveite, por exemplo, um momento a ver um filme ou uma série ou a ler uma história com as crianças e ajude-o a colocar-se no "lugar do outro", pergunte "se fosse contigo que isto acontecesse o que fazias? Como te sentias? O que podíamos fazer para isto parar e te sentires melhor?".


rapaz jovem com olho magoado a mexer no telemóvel

"Não podemos esquecer que as crianças olham para os seus pais e adultos de referência como um exemplo, a forma como os adultos resolvem e lidam com a situação é também uma aprendizagem para elas"

Suspeita que o seu filho está a ser alvo de bullying? Saiba como agir

Se os pais suspeitam que o seu filho está a ser alvo de bullying devem, num primeiro momento, "potenciar ainda mais a comunicação e diálogo aberto ouvindo-os e fazendo perguntas sobre a escola, explorando preocupações e receios em relação a vários temas", esclarece a psicóloga.

Caso a criança tenha dificuldade em contar coisas do seu dia "comece por partilhar primeiro o seu dia (dando o exemplo do que espera) e estimule depois o desenvolvimento da conversa e partilha através de perguntas ou desafios, por exemplo: dizer uma coisa boa e uma má que tenha acontecido naquele dia, questionar de quem se sentiram mais próximos no dia, questionar que tipo de emoções sentiram ao longo do dia e o que as despertou".

Num segundo momento, caso as suspeitas se intensifiquem deve marcar uma reunião na escola e expor e explorar as preocupações e sinais de alerta que identifica. E, se confirmar o problema, a "sua intervenção deve ser imediata, denunciando a situação à escola", conclui.

Se a queixa vier da própria criança "nunca deve considerá-la um exagero ou desvalorizar a sua partilha. Deve ouvi-la, manter-se calmo e paciente e não culpar a criança por não se defender. A criança deve ser elogiada pela coragem de contar e denunciar", explica.

Após a exposição do caso à escola ou grupo onde a criança esteja a ser vítima de bullying e de serem tomadas medidas para que se resolva, a situação deverá ser monitorizada e acompanhada. "Não podemos esquecer que as crianças olham para os seus pais e adultos de referência como um exemplo, a forma como os adultos resolvem e lidam com a situação é também uma aprendizagem para elas", conclui.


menino cabisbaixo

Quando o agressor é o nosso filho

Pode ser tão difícil descobrir que a criança é vítima de bullying como descobrir que o nosso filho é o bully.

Carolina Manta esclarece que a criança pode "facilmente referir que a vítima é ela e negar que magoa outra pessoa, e, por isso, é importante iniciar uma conversa franca e aberta com ela sem a ameaçar, mostrando apenas que sabe o que ela tem feito e ajudá-la a colocar-se no lugar do outro, identificando as emoções que provocou na vítima".

Tanto os pais como a escola devem deixar claro que não aprovam estes comportamentos e que o bullying deve parar imediatamente. Se a criança pratica este tipo de comportamentos com regularidade está também em sofrimento emocional e deve procurar ajuda.

A psicóloga explica que "na maioria dos casos quando uma criança pratica bullying contra outra criança, existe um problema que não estava à vista e este comportamento foi uma forma (consciente ou inconsciente) de chamar à atenção e pedir ajuda, indicando mal-estar emocional e psicológico".

As crianças que fazem bullying têm maior probabilidade de se envolverem com comportamentos de risco no futuro. É importante pensar com seriedade no problema e resistir à vontade de desvalorizar a sua gravidade e importância. O bullying não é um comportamento normal nem faz parte do desenvolvimento".


Cyberbullying é mais fácil de praticar

O cyberbullying é um fenómeno recente, muito presente e abrangente. Além de ser mais fácil de executar uma vez que se realiza através da internet, qualquer criança pode ser vítima de cyberbullying mesmo que nunca tenha visto o agressor.

O cyberbullying aumenta a dimensão do número de crianças vítimas de bullying. Atualmente, cada vez mais crianças e jovens têm acesso a computadores e redes sociais. Torna-se "normal" falar umas com as outras através de redes sociais, partilharem fotos e momentos importantes das suas vidas o que também aumenta "exponencialmente a sua exposição e predisposição ao contacto com estranhos", alerta Carolina Manta.

O cyberbullying pode ser praticado tanto por colegas da criança como por desconhecidos, quando praticado por colegas é só mais uma forma de intensificar o bullying que já é praticado pessoalmente.

A psicóloga é de opinião que "o cyberbullying pode até ser mais prejudicial, na medida em que sendo feito através de um ecrã, é mais difícil para os pais identificarem. Crianças vítimas de bullying e cyberbullying são sensíveis e permeáveis a comentários, ofensas e humilhações e as consequências podem ser muito graves".

Vivemos numa era digital onde "as crianças sabem muito bem funcionar e comunicar nas redes sociais, não podemos evitar este contacto mas podemos estar atentos e mediar e guiar este uso das tecnologias", conclui.

É importante estarmos atentos a estes sinais para conseguirmos impedir da forma mais eficaz possível um impacto irreversível na saúde mental da criança.

Aviso: O Blog Mais Saúde é um espaço meramente informativo. A Medicare recomenda sempre a consulta de um profissional de saúde para diagnóstico ou tratamento, não devendo nunca este Blog ser considerado substituto de diagnóstico médico.

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