Cancro do estômago: tudo o que precisa saber sobre esta patologia
• 5 mins. leitura
O cancro do estômago é um dos cancros mais frequentes em Portugal e atinge mais homens, sobretudo a partir dos 50 anos de idade.
Habitualmente, é um tipo de cancro detetado em fases avançadas, razão pela qual os tratamentos nem sempre são suficientes, o que explica ser um dos mais mortais em todo o mundo.
São também relativamente frequentes os casos de recidiva, ou seja, após um tratamento bem-sucedido, o problema volta a aparecer. E é, ainda, um tipo de cancro com elevado risco de metastização, ou seja, que se pode disseminar através da circulação sanguínea ou linfática para outros órgãos ou partes do corpo como gânglios linfáticos, fígado, pâncreas, intestino delgado, cólon, pulmões ou ovários.
Particularidades do cancro do estômago
O que é
O cancro do estômago acontece, em mais de 90 por cento dos casos, quando surgem células anómalas na mucosa do estômago. Estas células acabam por formar um tumor que na maioria dos casos é do tipo adenocarcinoma. Há, no entanto, outros tipos de cancro no estômago, menos frequentes, cujo diagnóstico e tratamento são diferentes dos utilizados para o adenocarcinoma gástrico.
Os principais tipos de cancro do estômago são, assim, os seguintes:
- Adenocarcinomas gástricos: que têm origem nas células do revestimento do estômago;
- Linfomas gástricos: que se formam a partir de células anómalas do sistema imunitário situadas na parede do estômago;
- Tumores do estroma gastrointestinal (GIST): que são raros e se presume formarem-se a partir de células específicas na parede do estômago (células intersticiais de Cajal);
- Tumores neuroendócrinos: que são provenientes de células nervosas ou endócrinas do estômago.
Causas e fatores de risco
As causas de cancro do estômago não estão, até ao momento, totalmente esclarecidas. Mas conhecem-se alguns dos fatores de risco e sabe-se que há pessoas mais suscetíveis para a doença do que outras.
A idade (mais de 50 anos) e o sexo masculino são dois dos fatores de risco mais importantes. Sabe-se, aliás, que o cancro do estômago afeta duas vezes mais os homens do que as mulheres.
Além disso, é também uma doença mais comum em pessoas de raça negra, bem como em algumas regiões do mundo, designadamente, naquelas onde é muito frequente a conservação de alimentos por secagem, fumeiro, salga ou vinagre.
Os fatores de risco para o cancro do estômago incluem:
- Sexo masculino;
- Idade acima dos 50 anos;
- Raça negra;
- Hábitos alimentares ricos em alimentos salgados e fumados e pobres em frescos (sobretudo vegetais e fruta);
- Tabagismo, incidência duas vezes superior nos fumadores;
- Antecedentes familiares de cancro no estômago (pai, mãe ou irmãos);
- Infeção pela bactéria Helicobacter pylori;
- Antecedentes de cirurgia ao estômago;
- Antecedentes de anemia perniciosa, acloridria (ausência de produção de ácido clorídrico no estômago) ou atrofia gástrica;
- Exposição a determinados pós e fumos no local de trabalho;
- Presença de pólipos no estômago;
- Gastrite crónica (inflamação crónica do estômago);
- Metaplasia intestinal;
- Obesidade;
- Infeção pelo vírus Epstein-Barr (EBV).
Sintomas
Os sintomas iniciais de cancro do estômago não são fáceis de identificar e, frequentemente, são mesmo desvalorizados ou inexistentes. Daí que a deteção precoce da doença possa ser difícil.
Este é um dos motivos pelos quais, normalmente, o tumor já se encontra metastizado antes mesmo de surgirem os primeiros sintomas.
De qualquer forma, sabe-se que os sintomas de cancro do estômago incluem:
- Azia, indigestão, acidez e eructação (arrotos);
- Desconforto ou dor na barriga;
- Náuseas e vómitos;
- Diarreia ou obstipação;
- Dilatação do estômago após as refeições (sensação de enfartamento, mesmo a seguir a uma refeição leve);
- Perda de apetite;
- Fraqueza e cansaço;
- Vómito com sangue ou sangue nas fezes;
- Perda de peso acentuada e sem explicação.
No entanto, estes sintomas também podem estar presentes em doentes com um tumor benigno ou por outro tipo de problemas de menor gravidade (por exemplo, um vírus ou uma úlcera).
Qualquer pessoa com estes sintomas deve, no entanto, consultar o seu médico assistente ou um gastroenterologista no sentido de excluir uma neoplasia do estômago.
Diagnóstico
Perante os sintomas acima descritos, o médico vai colocar perguntas relacionadas com a história clínica do doente, os hábitos de vida (se fuma, que tipo de alimentação segue, etc.) e os antecedentes familiares. Irá também fazer um exame clínico e, eventualmente, solicitar a realização de análises e outros exames.
O diagnóstico de cancro do estômago baseia-se, assim, nos seguintes exames:
- Endoscopia digestiva alta: observação do estômago e esófago através da introdução, pela boca, de um tubo fino e iluminado (gastroscópio). Este exame pode ser realizado sob anestesia local ou sedação. Podem ser realizadas biópsias do revestimento do esófago ou estômago para avaliar a presença de células malignas através de um exame anatomo-patológico do tecido.
- TAC tórax, abdómen e pelve: a Tomografia Axial Computorizada (TAC) é um exame radiológico que permite observar a localização e extensão do tumor, o envolvimento de gânglios linfáticos bem como a presença de metástases noutros órgãos.
Tratamento
O tratamento do cancro do estômago varia de acordo com o tipo e estadiamento do tumor (doença inicial, localmente avançada ou metastizada), com o estado funcional do doente assim como com as patologias associadas.
O cancro do estômago é difícil de tratar, sobretudo quando não é detetado numa fase inicial, ou seja, antes de se disseminar. No entanto, mesmo em fase avançada é possível o tratamento e/ou alívio dos seus sintomas.
A abordagem do cancro do estômago inclui os seguintes tratamentos:
Cirurgia (gastrectomia parcial ou total)
É removida parte ou a totalidade do estômago e algum tecido circundante. No primeiro caso, o cirurgião liga o que resta do estômago ao intestino delgado. Se a gastrectomia for total, o esófago é ligado diretamente ao intestino delgado.
Durante a cirurgia, frequentemente, são também removidos os gânglios linfáticos à volta do estômago no sentido de controlar a doença localmente e também completar o estadiamento do tumor no que diz respeito à presença e ao número de gânglios metastizados. Por vezes, são removidos outros órgãos próximos do estômago quando à invasão direta.
Quimioterapia
A quimioterapia permite erradicar as células tumorais ou limitar o seu crescimento através da utilização de um medicamento ou da conjugação de vários fármacos. Estes podem ser administrados por via oral, sob a forma de comprimidos, ou através de uma injeção intravenosa.
Habitualmente, a quimioterapia obedece a ciclos de tratamento, alternando entre um ou mais dias sucessivos de administração e um período de descanso.
Radioterapia
A radioterapia tem como objetivo erradicar as células tumorais com recurso a radiação dirigida à área do cancro, mas está indicada apenas em casos selecionados de cancro gástrico.
Imunoterapia – Terapêutica Biológica
Este tipo de tratamento consiste na administração de fármacos que atuam diretamente em recetores envolvidos na carcinogénese. Estão apenas indicados na presença de determinadas mutações genéticas.
Prevenção
A prevenção do cancro do estômago passa, sobretudo, pela adoção de um estilo de vida saudável. Há alguns hábitos que podem contribuir para reduzir os fatores de risco, designadamente:
- Diminuir o consumo de alimentos salgados e fumados;
- Consumo diário de vegetais e fruta;
- Praticar exercício físico com regularidade;
- Controlar o peso corporal;
- Deixar de fumar.