Criopreservação de ovócitos: conheça todas as fases do processo

A congelação de óvulos, conhecida como criopreservação de ovócitos, é uma forma de procriação medicamente assistida (PMA).

A procriação medicamente assistida inclui todos os tratamentos de fertilidade em que são manuseados embriões, gâmetas ou zigotos (também podem ser manuseados espermatozoides).

No procedimento de criopreservação de ovócitos, usam-se fármacos para estimular o crescimento de vários folículos ao mesmo tempo. Esses óvulos são recolhidos depois de libertados por via endo-vaginal e congelados para armazenamento (esta técnica de criopreservação chama-se vitrificação).

Posteriormente, os óvulos podem ser descongelados e fertilizados com espermatozoides para criar um embrião. Nessa fase, o embrião é implantado no útero durante um ciclo de transferência de embriões.

Embora a congelação de ovócitos não garanta uma gravidez, pode aumentar as hipóteses de uma gravidez tardia ser bem-sucedida.

Segundo o Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA), Portugal encontra-se num patamar técnico-científico semelhante ao dos países mais desenvolvidos. Isto deve-se não só à qualidade dos métodos de PMA, mas também ao desempenho de grupos de profissionais de várias áreas clínicas e não clínicas.

Motivos para recorrer a este método

Há cada vez mais pessoas a recorrer a este tipo de soluções de criopreservar óvulos. As motivações são diversas:

• Gravidez tardia: por motivos emocionais ou financeiros, algumas mulheres não se sentem preparadas para abraçar a maternidade em determinados momentos. Desta forma, quando estiverem prontas para constituir família, podem recorrer a este método de procriação assistida;
• Tratamentos médicos: tratamentos oncológicos como a radioterapia e a quimioterapia podem ser prejudiciais para a fertilidade. Para pessoas que estejam em vias de iniciar este tipo de tratamento, a criopreservação de óvulos pode preservar as suas opções futuras de fertilidade;
• Condições médicas: tratamentos para condições como a endometriose podem afetar a capacidade de engravidar ou de uma gestação em segurança. Recorrer à criopreservação de ovócitos pode permitir alternativas de fertilidade para o futuro;
• Transição de género: para indivíduos designados como mulheres ao nascer e que estão a iniciar a transição de género, a vitrificação pode ajudar numa futura conceção.

A recolha de ovócitos é eficaz em todas as idades?

À medida que os anos passam, menores são as probabilidades de engravidar, no período de um ano:

• Menos de 30 anos: 85%;
• 30 anos: 75%;
• 35 anos: 66%;
• 40 anos ou mais: 44%.

Assim, a recolha de ovócitos não é eficaz em todas as idades de igual forma, até porque os ovários e os óvulos são afetados pelos efeitos do envelhecimento. A idade é, por isso, o fator-chave para o sucesso da congelação de óvulos.

Por norma, criopreservar óvulos após os 40 anos não é recomendado. Contudo, cada caso deve ser avaliado cuidadosamente.

Complicações da criopreservação

À semelhança de qualquer procedimento médico, também a criopreservação de ovócitos não é isenta de riscos nem de complicações.

Em tratamentos de fertilidade como a implantação uterina ou a fertilização in vitro, são usados certos medicamentos. Os pacientes devem ser monitorizados para evitar efeitos colaterais, tais como:

• Síndrome de hiperestimulação ovárica: esta condição pode fazer com que os ovários inchem e vazem líquido para o corpo (dificilmente ocorre com uma toma, sendo mais comum em mulheres que fazem tratamentos recorrentes para tentar engravidar naturalmente);
• Gravidez ectópica: esta condição pode ocorrer nas gestações naturais, sendo que, numa gravidez medicamente assistida, a taxa de desenvolver gravidez ectópica aumenta ligeiramente;
• Gestação gemelar: este risco deve-se à estimulação hormonal para ovular uma certa quantidade de óvulos durante um ciclo de indução da ovulação ou ao número de embriões transferidos num ciclo de fertilização in vitro. Embora a maioria das gestações gemelares sejam de gémeos, há uma ligeira hipótese de surgir trigémeos ou mais.

Criopreservar óvulos é um procedimento doloroso?

Este procedimento de preservação da fertilidade é feito sob anestesia.

Durante o ciclo com a estimulação da ovulação, é normal sentir efeitos colaterais que, geralmente, não são graves. Isso pode incluir:

• Mudanças de humor;
• Dores de cabeça;
• Ondas de calor;
• Náuseas.

Após o procedimento, algumas mulheres podem ter:

• Cólicas;
• Inchaço;
• Dor (apesar de suave).

Pode ser complicado gerir o stress inerente a este tipo de procedimento. Por isso, assegure-se de que se sente confortável no espaço escolhido para o efeito.

Taxa de sucesso da gravidez com fecundação tardia

A taxa de sucesso depende de vários fatores, incluindo a idade da mulher e a quantidade e qualidade dos óvulos utilizados.

Pessoas com menos de 35 anos, se congelarem 30 ovócitos, têm 94,4% de probabilidades de ter, pelo menos, um embrião. Esta taxa cai para 5,9% para pessoas que congelam apenas cinco ovócitos em idade mais avançada.

É o que diz um estudo científico divulgado pelo Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos EUA.

Como é realizada a preservação de óvulos?

A criopreservação de ovócitos começa com uma consulta a um ginecologista especialista em fertilidade. O processo para a congelação de óvulos engloba várias fases:

• Avaliação: com uma ecografia, os médicos avaliarão o número de óvulos que a mulher possui (reserva ovárica). Poderão solicitar uma ecografia dos ovários e também fazer um despiste de doenças como a hepatite B e VIH ou SIDA;
• Injeções hormonais: esta parte requer várias consultas médicas. Normalmente, as injeções hormonais iniciam-se entre o segundo e o terceiro dia de um ciclo menstrual. A medicação estimula os ovários e, por conseguinte, o crescimento de vários folículos em simultâneo. Durante as consultas de acompanhamento, podem ser realizadas ecografias ováricas e exames ao sangue para monitorização dos resultados;
• Recolha de ovócitos: os ovócitos são recolhidos num procedimento ambulatório único, que demora cerca de 15 a 20 minutos. Como é feito sob anestesia, não causa dor e o paciente pode voltar para casa no mesmo dia.
• Vitrificação: é uma técnica específica, na qual a água nos ovócitos é substituída por um líquido próprio, que protege as membranas durante a congelação, e impede que se criem cristais de gelo.

Onde fazer este tipo de procriação medicamente assistida

Em território nacional, este tratamento de preservação da fertilidade pode ser realizado em centros de procriação medicamente assistida, em regime público e privado.

Ao optar pelo sistema privado, a criopreservação dos ovócitos pode atingir os 2 mil e 500 euros. Porém, depende de cada centro e da situação clínica da mulher.

Em pessoas com 38 ou mais anos, criopreservar óvulos pode chegar aos 3 mil euros. O valor é superior, porque o processo pode demorar mais tempo.