Gordura castanha: conheça os segredos desta gordura “boa”

Ter gordura castanha é saudável e pode fazer com que viva mais tempo. Pode parecer estranho juntar, na mesma frase, as palavras "gordura" e "saudável", mas é a ciência que o diz.

Há, contudo, um senão: esta gordura "boa" não é tão comum como a gordura branca (a gordura má) e, por isso, pode não ser muito fácil tirar partido dela.

Saiba mais sobre as recentes descobertas relacionadas com este assunto e sobre a possibilidade de, um dia, a gordura castanha ser usada para combater a obesidade e aumentar a esperança de vida.

O que é a gordura castanha?

A gordura existe em todas as pessoas e desempenha funções importantes, como fornecer energia para o corpo funcionar ou regular a temperatura corporal. As células de gordura (os adipócitos) formam os tecidos adiposos, que podem ser brancos ou castanhos.

A gordura castanha está muito presente no nosso corpo quando nascemos, sendo fundamental para que os bebés mantenham a temperatura corporal, mas vai desaparecendo à medida que crescemos.

Ainda assim, todos temos pequenos depósitos de gordura castanha, sobretudo no tórax e abdómen. Este tecido adiposo é importante para queimar energia e gerar calor – a chamada termogénese –, quando é ativado pelo frio ou por sinais químicos.

Gordura castanha vs. gordura branca

A gordura branca é mais comum do que a castanha e tende a aumentar devido à alimentação, à vida sedentária e ao abrandamento do metabolismo próprio do processo de envelhecimento.

Ao contrário da gordura castanha, a gordura branca não consome energia e acumula-se. Localiza-se sobretudo junto a órgãos como o fígado ou estômago – a gordura visceral – e debaixo da pele. Tem como missão regular hormonas como a insulina, mas é também a responsável pelo aumento de peso e pelas "gordurinhas" indesejadas na barriga, ancas e coxas.

Assim, apesar de ser fundamental para que possamos viver, o ideal seria que a gordura branca diminuísse ou, pelo menos, pudesse ser transformada em gordura castanha.

Qual é a importância da gordura castanha para a saúde?

A gordura castanha é muito importante para o metabolismo, uma vez que queima energia e gera calor. Logo, pode ser uma grande aliada não só na perda de peso, mas também ter um efeito protetor contra a diabetes e outras doenças relacionadas com a obesidade.

Mas não só. Um estudo recente publicado na ‘Nature' sugere mesmo que pode ser uma forma de combater o cancro, já que restringe o crescimento tumoral.

Outro estudo, que envolveu 52.487 pessoas em fase de vigilância, diagnóstico ou tratamento de cancro, concluiu que os pacientes com mais tecido adiposo castanho tinham menor prevalência de doenças cardiometabólicas e menos hipóteses de vir a sofrer de diabetes tipo 2, dislipidemia (excesso de gordura no sangue), doença arterial coronária, doença cerebrovascular, insuficiência cardíaca congestiva e hipertensão.

Ou seja, a gordura castanha pode tornar-nos mais saudáveis e fazer-nos viver durante mais tempo.

Por outro lado, a gordura branca está associada a uma redução da qualidade de vida (nomeadamente devido à fadiga e dificuldade para realizar tarefas como subir escadas), a doenças crónicas, ósseas e até a alguns tipos de cancro. Por isso, seria importante reduzi-la.

É possível transformar gordura branca em gordura castanha?

Como a gordura castanha é menos comum no organismo, os cientistas estão a estudar não só os seus benefícios, mas também formas de aumentá-la. Sabe-se que é ativada por temperaturas mais baixas, mas existirão outros métodos, incluindo farmacológicos? Isto é, existirá uma substância capaz de transformar gordura branca em gordura castanha?

É nesse ponto que estão os investigadores. Estudos feitos em humanos, ratos ou ovelhas procuram encontrar o "interruptor" que desliga a gordura "má" e a transforma em "gordura boa".

A transformação da gordura em energia ocorre pela exposição ao frio, mas apenas durante um certo período de tempo. O que significa que esta não é a solução mais viável para fazer aumentar a gordura castanha.

Procura-se, por isso, encontrar uma substância – de preferência já usada, aprovada e usada em medicamentos – que possa ativar esta transformação.

Outra solução em análise está relacionada com a reprogramação celular, que passaria por programar as células de gordura branca para que se transformem em células de gordura castanha e voltar a injetá-las na pessoa.

Até que estas inovações saiam dos laboratórios e possam ser usadas de maneira segura e eficaz em humanos, há pequenos gestos que podem ajudar a estimular a gordura castanha, nomeadamente praticar exercício físico e dormir bem.

Há igualmente alguns compostos bioativos alimentares que podem favorecer a ativação do tecido adiposo castanho. É o caso da cafeína, de alimentos com resveratrol (presente nas sementes de uva e no vinho tinto) e capsaicina (que existe, por exemplo, nas malaguetas).