Hipertermia: a terapêutica que provoca febre para curar
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Indíce
- 1. Como funciona?
- 2. Como é feito?
- 3. Vantagens
- 4. Riscos
- 5. Taxa de sucesso
As taxas de sobrevivência para muitos tipos de cancro continuam a crescer, devido, na sua maioria, a melhorias na deteção precoce e nas formas de tratamento. Os investigadores têm encontrado resultados positivos na hipertermia, uma termoterapia emergente usada como tratamento complementar para muitos tipos de cancro, assim como para controlar outras doenças crónicas, como a asma.
De notar que falamos de um tratamento e não da condição médica com o mesmo nome, caraterizada pelo aumento anormal da temperatura corporal. A hipertermia é uma terapêutica que aumenta o calor corporal do paciente, de forma momentânea e propositada (ao contrário da condição médica), para danificar e destruir as células cancerígenas.
Descubra, a seguir, como se processa este tratamento, quais as vantagens já identificadas e quem pode fazê-lo.
Como funciona a hipertermia?
A hipertermia aumenta a temperatura dos tecidos corporais, de maneira a destruir as células cancerígenas, sem comprometer o restante organismo do paciente. Para ter uma ideia, aquando da realização de ensaios clínicos, os investigadores científicos descobriram que temperaturas entre os 41°C e os 44°C não eram tóxicas para as células saudáveis, mas eram tóxicas para as células cancerígenas.
Nesse sentido, esta terapia tem sido encarada como uma abordagem complementar a outros tratamentos médicos, oferecendo uma estratégia adicional para melhorar os resultados clínicos e a qualidade de vida do paciente. Além disso, pode ser eficaz no tratamento de condições crónicas, como asma, bronquite, colite ulcerosa e doença de Crohn.
Como é feito este tratamento?
Este tratamento é sempre guiado por um médico especialista, que recorre a métodos e a aparelhos específicos para o efeito. Normalmente, a hipertermia é usada em combinação com outros tratamentos oncológicos, como a quimioterapia ou a radioterapia.
Ao provocar uma espécie de febre controlada para curar, a hipertermia atua em áreas específicas do corpo do paciente, através de ondas eletromagnéticas. O procedimento geral não é invasivo e os tempos podem variar, estando dependentes dos protocolos oncológicos recomendados.
Geralmente, o clínico pode recorrer a tomografias computorizadas para garantir que os campos eletromagnéticos atuam no local certo, ao longo do tratamento. Consoante o diagnóstico do paciente, o procedimento pode ser local, parcial ou no corpo todo:
- Hipertermia local: é usada para aquecer uma pequena parte do corpo, por meio de uma sonda que direciona ondas eletromagnéticas de alta frequência em direção ao tumor, através, por exemplo, de radiofrequência. O paciente não sente dor durante o procedimento;
- Hipertermia parcial: é usada para aquecer partes do corpo maiores, como uma cavidade inteira, um membro ou um órgão. Pode ser realizada mediante um processo designado perfusão de isolamento, que consiste em retirar um pouco de sangue, aquecendo-o e injetando-o nos vasos sanguíneos pretendidos. A temperatura vai diminuindo no resto do sistema circulatório, mas é injetado na temperatura máxima no local pretendido. Por norma, este tratamento é geralmente acompanhado por medicação oncológica;
- Hipertermia no corpo todo: é usada para tratar cancros que se espalharam pelo corpo. Este tipo de hipertermia recorre a câmaras térmicas, que ajudam a aumentar a temperatura corporal do paciente, o qual, normalmente, está sedado.
Esta termoterapia pode ser recomendada em casos de recidivas de cancro. Se o corpo não conseguir lidar com um segundo ciclo completo de radioterapia ou quimioterapia, o paciente poderá ser aconselhado a fazer algumas sessões de hipertermia.
Quais são as vantagens da hipertermia?
A utilização da hipertermia ainda está a ser estudada, não existindo, ainda, conclusões claras em termos de resultados finais. Ainda assim, o tratamento da hipertermia pode trazer ao paciente as seguintes vantagens:
- Pode melhorar a eficácia de outros tratamentos, como a radioterapia e a quimioterapia;
- Pode minimizar os danos nos tecidos próximos da zona comprometida, atuando apenas no tumor em si;
- É um possível tratamento para pessoas que não são saudáveis o suficiente para serem operadas (a hipertermia poderá ser menos invasiva do que uma operação cirúrgica) ou que estão aptas para outras terapêuticas;
- Poderá ajudar a tratar tumores profundos, quando a cirurgia não é aconselhável, tais como o cancro da cabeça ou do pescoço;
- Pode atuar em pequenos tumores, num local específico do corpo, permitindo um tratamento mais personalizado e direcionado para suprir as caraterísticas específicas da condição médica do paciente.
Existem riscos associados a esta termoterapia?
À luz dos poucos estudos existentes com resultados concretos, a meta do tratamento da hipertermia passa por preservar, principalmente, o tecido saudável. Apesar de esta termoterapia implicar poucos riscos, em algumas situações, as temperaturas altas usadas podem provocar alguns danos, tais como:
- Queimaduras ou bolhas na pele;
- Hemorragias;
- Coágulos sanguíneos;
- Danos nos músculos, nos nervos ou na pele perto da área tratada;
- Diarreia;
- Infeção;
- Náuseas ou vómitos;
- Dor no local do tratamento;
- Inchaço ou dano nos tecidos.
É preciso ter em consideração que cada caso é um caso. A hipertermia está contraindicada para pessoas com epilepsia, infeções agudas, insuficiência cardíaca, hipertiroidismo, que já tenham tido tromboses ou enfartes do miocárdio, ou que estejam grávidas.
Em que cancros é que a hipertermia pode ser usada?
De forma geral, a hipertermia poderá ser uma hipótese de tratamento complementar para as seguintes doenças:
- Cancro da bexiga;
- Cancro do cérebro;
- Cancro da mama;
- Cancro do colo do útero;
- Cancro do esófago;
- Cancro da cabeça e pescoço;
- Cancro do fígado;
- Cancro do pulmão;
- Melanoma;
- Mesotelioma;
- Sarcoma;
- Cancro colorretal.
Esta terapia também pode ser indicada para quadros clínicos que evoluíram para metastização (quando o cancro se espalha), podendo afetar vários órgãos, como os pulmões ou o fígado.
De realçar que ainda não existem evidências científicas de que a hipertermia funcione em nenhum tipo de cancro em específico, sendo uma hipótese que está a ser estudada como adjuvante terapêutico ou paliativo.
A hipertermia pode ser usada em que pacientes?
Este tratamento para o cancro pode ser usado em doentes que:
- Tenham tumores profundos e que não são operáveis;
- Possuam pequenos tumores perto da epiderme;
- Não estão saudáveis o suficiente para serem operados (a hipertermia é menos invasiva do que uma operação cirúrgica).
Termoterapia: qual a taxa de sucesso?
Existem estudos com resultados promissores que reforçam o papel desta termoterapia. Um estudo científico, publicado em 2023 sobre os benefícios da hipertermia magnética (nanopartículas que são aquecidas externamente por um campo magnético), revelou que o aumento da temperatura local foi o suficiente para produzir a morte celular.
Uma revisão de literatura sobre a hipertermia, publicada em 2021, também mostrou resultados favoráveis, tanto na termoterapia aliada à radioterapia (termoradioterapia) como na termoterapia aliada à quimioterapia (termoquimioterapia).
As investigações realizadas até ao momento sugerem que a hipertermia, embora ainda seja um tratamento experimental, poderá ter resultados sinérgicos como adjuvante terapêutico.