O telemóvel pode causar cancro? Descubra a resposta
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Indíce
- 1. Porque nos preocupamos?
- 2. O que dizem os estudos?
- 3. O que dizem as organizações?
- 4. Tecnologia 5G
- 5. Quais os riscos?
Usar o telemóvel aumenta o risco de cancro? Esta é uma preocupação partilhada por muitas pessoas, que motivou a realização de estudos em vários países junto de grupos populacionais distintos.
Esses trabalhos científicos incidiram na relação entre o uso de telemóveis e tumores cerebrais, mas não só. Foi também avaliado se estes aparelhos podem provocar dores de cabeça, perturbar o sono ou afetar a função cognitiva.
Conheça os resultados alcançados e perceba se é seguro usar estes dispositivos móveis.
Telemóveis e cancro: a razão da preocupação
O receio de que o telemóvel provoque cancro está relacionado com as radiações (radiofrequência ou ondas de rádio) emitidas pelos aparelhos e com o facto de serem usados, de forma generalizada, por pessoas de quase todas as idades.
As apreensões dos utilizadores e dos investigadores incidiam sobretudo em eventuais cancros no cérebro e no sistema nervoso central. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) manifestava, em 2011, alguma preocupação quanto aos eventuais perigos da radiação e dos campos eletromagnéticos, o que terá contribuído para a crença de que o telemóvel seria prejudicial para a saúde.
O tempo mostrou que a questão das radiações não é preocupante, uma vez que o tipo de radiação emitida não é nociva. Os dados científicos disponíveis sobre a exposição à energia de radiofrequência não apresentam provas categóricas de quaisquer efeitos biológicos adversos para além do aquecimento dos tecidos.
Os vários estudos realizados também afastam qualquer relação entre a utilização de telemóveis e o aparecimento de tumores.
O que dizem os estudos sobre telemóveis e cancro
A relação entre a utilização dos telemóveis e o surgimento de tumores tem sido objeto de estudo, há vários anos, em diversos países e com conclusões semelhantes.
Reino-Unido: risco de cancro inferior a 1%
Foi realizado no Reino-Unido aquele que é, provavelmente, o maior estudo levado a cabo sobre a relação entre a utilização do telemóvel e o cancro.
Este estudo abrangeu 1,3 milhões de mulheres de diferentes faixas etárias, as quais responderam a questionários sobre o uso de telemóveis, primeiro em 2001 e depois em 2011. As participantes foram sendo acompanhadas ao longo dos anos com base na informação do National Health Services (serviço nacional de saúde britânico), e em registos sobre tumores cerebrais (incluindo os benignos) e mortes.
Durante os 14 anos seguintes, verificaram-se 3268 tumores cerebrais entre as 776 156 participantes que responderam ao questionário de 2001. Os dados foram, então, comparados com os das pessoas que nunca usaram telemóvel, tendo o risco de cancro ficado abaixo de 1% (0,89% para tumores cerebrais) entre quem usava este aparelho de forma regular.
Os investigadores não encontraram associações estatisticamente significativas entre tumores cerebrais e o uso diário de telemóvel ou a utilização do telemóvel por um período de pelo menos 10 anos. Ou seja, concluíram que o telemóvel não aumenta o risco de cancro.
Dinamarca: 10 anos depois, o risco manteve-se baixo
Na Dinamarca, foi feito outro estudo de grande escala, com conclusões semelhantes às do estudo britânico. Para esta investigação, foram selecionados todos os dinamarqueses que, entre 1982 e 1995, tinham assinaturas de serviço móvel (mais de 420 mil pessoas).
O registo populacional central e o registo oncológico dinamarquês forneceram informações sobre os casos de cancro, comparando a incidência nesta amostra da população com a incidência na população dinamarquesa. A partir destes dados, os cientistas puderam calcular se os utilizadores de telemóveis tinham um risco acrescido de cancro.
Em 2001, foram publicados os resultados relativos aos 5 anos anteriores, mostrando que não existia associação entre a utilização do telemóvel e o aumento do risco de cancros no cérebro, no sistema nervoso, nas glândulas salivares ou de leucemia.
Nos anos que se seguiram (em 2002 e 2006), foram publicados os dados com base no acompanhamento que foi sendo feito. Mesmo decorridos vários anos de utilização de telemóvel, continuava a não existir provas de um aumento do risco de cancro.
O que dizem as organizações internacionais
A Food and Drug Administration (FDA), entidade responsável pela saúde pública nos Estados Unidos da América, tem monitorizado, nos últimos 30 anos, a incidência de cancro no país.
Este organismo norte-americano garante que, apesar do enorme crescimento na utilização do telemóvel, não se verificou um aumento generalizado no número de cancros no cérebro ou no sistema nervoso central. "Na verdade, a incidência deste tipo de cancros diminuiu nos últimos 15 anos", assegura a agência do Departamento de Saúde.
Ainda nos EUA, também o National Cancer Institute e a Federal Communications Commission (FCC) defendem que estes equipamentos não acarretam riscos para a saúde.
As radiações não ionizantes afetam a saúde?
A International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection (ICNIRP) tem igualmente avaliado os potenciais riscos associados à utilização do telemóvel. Esta organização fornece orientação e aconselhamento sobre os riscos para a saúde da exposição à radiação não ionizante, a mesma usada nos microondas.
Esta entidade lembra que foram feitas pesquisas sobre a relação entre os campos RF EMF (Campos Eletromagnéticos de Radiofrequência) e situações como dores de cabeça, dificuldade de concentração, qualidade do sono, função cognitiva, efeitos cardiovasculares, entre outras.
"A única descoberta consistentemente observada é um pequeno efeito na atividade cerebral medida por eletroencefalografia (EEG). A implicação biológica destas pequenas alterações não é, no entanto, clara. Por exemplo, não foi demonstrado que afetem a qualidade do sono ou estejam associados a quaisquer outros efeitos adversos", explicam.
Na sua avaliação, a ICNIRP considera ser "improvável que a exposição a campos eletromagnéticos de RF abaixo do limite térmico esteja associada a efeitos adversos à saúde".
A Comissão Europeia concluiu também que as investigações elaboradas sobre os efeitos da radiofrequência a nível neurológico e reprodutivo não indicaram nenhum risco para a saúde.
A tecnologia 5G é mais perigosa?
A ideia de que a tecnologia 5G, mais recente e mais potente, pode ter consequências negativas para a saúde também está a ser desmentida.
Tal como todas as tecnologias móveis, o 5G recorre à energia eletromagnética de radiofrequência (RF) para comunicar entre telemóveis e estações-base. Esta energia é uma forma de radiação não ionizante semelhante às ondas de rádio FM e ao calor. A radiação não ionizante não danifica o ADN, explica o Cancer Council australiano.
A entidade considera "muito improvável" que a exposição à radiofrequência 5G (independentemente da utilização do telemóvel) provoque cancro e salienta que estudos anteriores realizados no país já provaram que "não há aumento no risco de cancro associado a níveis normais de utilização de telemóveis".
Quais são os riscos do telemóvel para a saúde?
Para a Direção-Geral da Saúde (DGS), o principal perigo associado ao uso de telemóvel é o "risco de acidente pela sua utilização durante a condução automóvel", devido à distração do condutor.
A entidade portuguesa recomenda que quem usa implantes eletrónicos, como pacemakers, bombas de insulina, neuroestimuladores, entre outros, mantenha o telemóvel afastado, pelo menos, 15 centímetros do seu implante. Para falar ao telemóvel, estas pessoas devem, ainda, ter o cuidado de usar a orelha do lado oposto ao implante.
A DGS desaconselha a utilização de telemóveis equipados com alegados sistemas de "proteção antirradiação", por não haver provas da sua eficácia.
Conclusão: os telemóveis provocam cancro?
Não há provas de que os telemóveis provoquem cancro ou aumentem o risco de doença oncológica. Nos estudos efetuados, não foi encontrada qualquer relação entre estes dispositivos e o surgimento de tumores.
Organizações ligadas à saúde, em todo o mundo, asseguram que as radiações emitidas pelos telemóveis não são nocivas para os seres humanos, desde que os aparelhos respeitem as orientações definidas, a nível internacional.