Misofobia: quando o medo excessivo de germes afeta a saúde mental
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Indíce
- 1. O que são fobias?
- 2. O que é?
- 3. Quais os sintomas?
- 4. Qualidade de Vida
- 5. Misofobia vs. TOC
A misofobia é caraterizada pelo medo irracional e excessivo de qualquer microorganismo que cause doenças, tais como bactérias, vírus, fungos ou outros parasitas.
Este medo pode afetar significativamente a qualidade de vida, pois alguém com esta fobia vai ter dificuldade em participar em atividades ou socializar com outras pessoas.
Fique a saber, a seguir, mais sobre a germofobia, as causas, sintomas e opções de tratamento, bem como de que modo esta fobia pode afetar a saúde mental e quando procurar ajuda.
O são fobias?
As fobias são transtornos de ansiedade caraterizados por um medo extremo e irracional de um objeto, lugar, situação, sentimento ou animal, desproporcional ao perigo real. Quando graves, podem levar a pessoa a organizar a sua vida para evitar a fonte do medo, causando sofrimento e limitando as suas atividades diárias. As fobias dividem-se em duas categorias principais:
- Fobias específicas ou simples, relacionadas com um objeto ou situação específica, como medo de animais, alturas, águas profundas, germes, dentista, avião, sangue, agulhas ou situações sexuais relacionadas com o desempenho ou medo de contrair uma infeção sexualmente transmissível (IST). Geralmente, surgem na infância ou adolescência e podem tornar-se menos graves à medida que se envelhece.
- Fobias complexas, mais incapacitantes e desenvolvem-se na idade adulta. Incluem a agorafobia, que consiste no medo de estar em situações onde escapar pode ser difícil; e fobia social, que envolve ansiedade em situações sociais, como falar em público ou encontrar-se com amigos.
As causas das fobias não são únicas, podendo incluir incidentes traumáticos, respostas aprendidas na infância e fatores genéticos, sendo que algumas pessoas têm uma predisposição para ser mais ansiosas do que outras.
O que é a misofobia?
A misofobia, também conhecida como germofobia, é uma fobia específica caraterizada pelo medo irracional e excessivo de germes, sujidade e contaminação. O termo germes refere-se a qualquer microrganismo que possa causar doenças, como, por exemplo, bactérias, vírus ou parasitas.
Não se trata apenas de uma aversão geral à sujidade. Pessoas com esta fobia vivem com uma preocupação constante em evitar qualquer tipo de contaminação, como estar em contacto com outras pessoas ou tocar em objetos, o que pode levar a comportamentos obsessivos e compulsivos. Este transtorno está frequentemente associado ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Além de germofobia, a misofobia também pode ser referida como: bacilofobia, bacteriofobia e verminofobia.
Quais os sintomas?
É normal ter medo. No entanto, quando falamos em fobias, os medos são considerados irracionais ou excessivos. Assim, na misofobia, a angústia e a ansiedade causadas pelo medo dos germes são desproporcionais aos danos que os germes podem realmente causar.
Os sintomas da germafobia podem variar de intensidade e de pessoa para pessoa. São iguais aos sintomas de outras fobias, mas, neste caso específico, aplicam-se a pensamentos e situações que envolvem germes. Estes pensamentos e situações causam respostas emocionais e físicas, bem como mudanças comportamentais.
Emocionais e psicológicos
Os sintomas emocionais e psicológicos da germafobia incluem:
- Medo intenso a germes;
- Ansiedade e preocupação excessiva relacionadas com a exposição a germes;
- Medo de morrer;
- Alheamento da realidade;
- Sensação de impotência em controlar o medo, mesmo reconhecendo que se trata de uma emoção irracional ou extrema.
Comportamentais
Quanto a sintomas comportamentais que podem afetar a vida diária, podem ser observados os seguintes:
- Lavar as mãos com frequência, várias vezes seguidas ou por um período anormalmente longo;
- Usar sempre luvas para evitar contacto com germes:
- Evitar situações sociais, mesmo com familiares e amigos próximos;
- Proteger ou cobrir objetos de uso diário como comandos de televisão ou volante do carro;
- Passar o menos tempo possível em espaços públicos, como supermercados e restaurantes;
- Regressar a casa de imediato perante a probabilidade de exposição a germes;
- Tomar vários banhos por dia;
- Usar desinfetante para as mãos sempre que toca numa superfície ou objeto.
Físicos
Os sintomas físicos da germafobia são semelhantes aos de outros transtornos de ansiedade e podem ocorrer durante pensamentos sobre germes ou em situações que os envolvem, nomeadamente:
- Batimento cardíaco acelerado;
- Suar excessivamente ou sentir calafrios;
- Falta de ar;
- Aperto ou dor no peito;
- Tonturas;
- Tremores;
- Tensão muscular;
- Inquietação;
- Náuseas ou vómitos;
- Dores de cabeça;
- Dificuldade em relaxar;
- Confusão mental;
- Crises frequentes de choro;
- Irritabilidade.
Crianças com medo de germes também podem apresentar estes sintomas. Dependendo da idade, podem apresentar sinais adicionais como:
- Birras, choro ou gritos
- Agarrar-se ou recusar-se a deixar os pais;
- Dificuldade em dormir;
- Movimentos nervosos;
- Problemas de autoestima.
Como a germofobia afeta a qualidade de vida?
Pessoas com esta fobia evitam ações e locais que consideram potencialmente contaminados, como comer fora, ter relações sexuais, usar casa de banho públicas, ir a centros comerciais ou andar de transportes públicos. Em locais que não podem ser evitados, como escola ou trabalho, atividades simples como tocar em maçanetas ou apertar a mão a alguém provocam grande ansiedade.
Esta ansiedade pode levar a comportamentos compulsivos, como lavar as mãos, tomar banho ou limpar superfícies repetidamente. Embora estas ações reduzam o risco de contaminação, podem tornar-se tão dominantes que dificultam a concentração noutras atividades.
Qual a relação com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)?
Embora uma preocupação temporária com germes ou doenças não indique necessariamente um Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), o medo de germes pode, por vezes, levar ao seu desenvolvimento.
No TOC, obsessões recorrentes e persistentes causam ansiedade e angústia significativas, resultando em comportamentos compulsivos e repetitivos que oferecem algum alívio. A limpeza é uma compulsão comum em pessoas com este problema.
É possível ter misofobia sem ter TOC, e vice-versa. A principal diferença é que pessoas com germafobia limpam repetidamente para reduzir a presença de germes, enquanto pessoas com TOC limpam para aliviar a ansiedade, seguindo, para tal, um ritual específico.
Quais as causas da misofobia?
Como outras fobias, a misofobia surge, normalmente, na infância ou em jovens adultos. Ainda que as causas das fobias não sejam completamente conhecidas, há vários fatores que contribuem para que se desenvolvam, nomeadamente:
- Experiências negativas na infância como eventos traumáticos relacionados com germes;
- História familiar, pois as fobias podem ter uma ligação genética. Ter familiares com fobias ou transtornos de ansiedade aumenta o risco, embora a fobia específica possa ser diferente;
- Fatores ambientais como crenças e práticas de higiene aprendidas na juventude;
- Fatores cerebrais, mudanças na química e função do cérebro podem desempenhar um papel no desenvolvimento de fobias.
Os gatilhos que podem agravar os sintomas da germafobia incluem:
- Fluidos corporais, como muco, saliva ou sémen;
- Objetos e superfícies sujas, como maçanetas, teclados ou roupas;
- Locais com alta concentração de germes, como centros comerciais, supermercados, aviões ou hospitais;
- Práticas pouco higiénicas ou pessoas sem hábitos de higiene.
Como é diagnosticada?
Não existem testes específicos para diagnosticar a misofobia. Em vez disso, um profissional de saúde mental avalia os sintomas e o impacto na vida da pessoa, além de analisar o histórico familiar de transtornos de ansiedade ou fobias. Por norma, o diagnóstico é feito numa única consulta.
A misofobia é classificada como uma fobia específica no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 5.ª edição, da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5-TR). Para diagnosticar uma fobia específica, como a misofobia, a pessoa deve:
- Ter medo persistente e intenso de germes;
- Experimentar ansiedade ou pânico desproporcional ao enfrentar germes;
- Ter sintomas que duram pelo menos seis meses;
- Sofrer perturbações em áreas importantes da vida;
- Não ter outra condição de saúde mental que explique melhor os sintomas.
Assim, na consulta, o médico fará perguntas como:
- Com que frequência pensa em germes?
- Já passou por algum evento traumático relacionado com germes?
- Como se sente em relação a bactérias e vírus?
- Esta situação está a causar mudanças comportamentais que afetam a sua felicidade ou rotina diária?
- Tem histórico pessoal ou familiar de ansiedade ou TOC?
- O medo de germes leva-o a evitar pessoas ou lugares que costumava frequentar?
Opções de tratamento
O tratamento da germafobia visa diminuir o desconforto em relação aos germes e melhorar a qualidade de vida, recorrendo a terapias, medicamentos e medidas de autocuidado.
Terapias
Psicoterapia ou aconselhamento podem ajudar a enfrentar esta fobia. As terapias mais eficazes são:
- Terapia de exposição: envolve expor o paciente de forma controlada e gradual às situações temidas para reduzir a ansiedade e o medo ao longo do tempo;
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): normalmente combinada com a terapia de exposição, fornece competências para enfrentar situações de medo extremo.
Medicamentos
Embora a terapia seja geralmente suficiente, podem ser utilizados medicamentos a curto prazo para aliviar a ansiedade associada à fobia, incluindo:
- Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS);
- Inibidores da recaptação de serotonina-norepinefrina (SNRIs);
- Medicamentos para situações específicas de ansiedade, como bloqueadores beta, anti-histamínicos e sedativos.
Medidas de autocuidado
Mudanças no estilo de vida também podem ajudar:
- Praticar meditação;
- Utilizar técnicas de relaxamento, como respiração profunda ou ioga;
- Manter-se ativo;
- Dormir o suficiente;
- Seguir uma alimentação saudável;
- Procurar um grupo de apoio;
- Reduzir o consumo de cafeína ou outros estimulantes.
Precaução racional vs medo excessivo
A maioria das pessoas adota precauções contra doenças comuns, como constipações e gripes, como vacinar-se sazonalmente e lavar as mãos com regularidade. Contudo, a preocupação com os germes torna-se prejudicial quando causa mais angústia do que a que evita.
Estes são alguns sinais que indicam um medo excessivo:
- Limitações significativas nas atividades, lugares frequentados e pessoas vistas;
- Reconhecimento da irracionalidade do medo, mas sentir-se impotente para controlá-lo;
- Rotinas e rituais para evitar contaminação que causam vergonha ou desconforto mental.
Se identificar estes sinais, procure a ajuda de um profissional de saúde para receber tratamento adequado e melhorar a qualidade de vida.