Tem pele atópica? Cuidados a ter para proteger a sua pele
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Pele atópica: o que deve saber
Aproximadamente 10% das crianças sofrem de eczema atópico, uma patologia dermatológica crónica, em que a pele seca é uma das principais causas, provocando erupções que causam prurido, com formação do eczema, vermelhidão e crostas.
As localizações mais comuns são frequentemente nas dobras dos braços e na parte de trás dos joelhos, porém em alguns pacientes podemos observar em várias partes do corpo. É muito comum a doença aparecer na infância e ficar menos intensa na fase adulta, e é importante salientar que não é uma doença contagiosa, não havendo nenhum risco de transmissão.
Ao contrário da pele das outras pessoas, a pele atópica, ou seja, a pele dos indivíduos com eczema ou dermatite atópica, reage a estímulos que não provocam qualquer resposta em peles não atópicas.
Habitualmente, esta doença manifesta-se nos primeiros meses de vida, embora também possa surgir, ainda que mais raramente, em adultos jovens. Aproximadamente 80% dos pacientes com pele atópica vêm a desenvolver outras manifestações de atopia, como é o caso da asma ou da rinite alérgica.
O que é
Considera-se, então, que alguém tem pele atópica quando a epiderme e a derme de um indivíduo não funcionam como é habitual, sofrendo mutações genéticas pontuais ao nível dos seus constituintes e, também, a nível imunológico.
Essas mutações impedem a pele de se defender convenientemente das agressões exteriores. Algumas das consequências dessas mutações são a perda de água entre as camadas da derme e a entrada na pele de componentes externos, que podem causar a inflamação da derme.
A dermatite atópica não deve ser, por isso, considerada uma alergia, mas sim parte daquilo que é designado de “marcha atópica”. Esta expressão refere-se ao desenvolvimento de manifestações de atopia nas crianças, que podem incluir o eczema atópico, a alergia alimentar, a asma e a rinoconjuntivite.
Com efeito, muitos dos pacientes com pele atópica têm história familiar de atopia, o que significa que existe uma relação causal entre as várias atopias.
Assim, uma criança que tenha familiares com asma ou rinite alérgica, por exemplo, tem maior probabilidade de vir a desenvolver dermatite atópica ou alergias alimentares.
Sintomas e causas
Normalmente de causa endógena, a dermatite atópica pode ser agravada por fatores externos. Como já explicámos, a pele dos indivíduos com dermatite atópica apresenta alguma dificuldade em reter a água na camada córnea da epiderme, pois há uma baixa produção de gordura intercelular e há alterações dos corneócitos.
Assim, as pessoas com dermatite atópica tendem a possuir uma pele seca e áspera. Além disso, é comum sentirem muito prurido, sobretudo quando transpiram. Nos mais novos, esta circunstância pode provocar perturbações do sono.
É comum o eczema atópico surgir logo nos primeiros meses de vida do bebé. Nesse caso, ele costuma aparecer na parte superior do rosto e nas maçãs do rosto. As principais caraterísticas destas lesões são o seu tom avermelhado e textura áspera. Porém, há situações em que podem surgir pequenas borbulhas com líquido, crostas e descamação.
Progressão da dermatite atópica
A evolução deste problema é irregular, ou seja, pode haver fases de agravamento e períodos de melhoria.
Esta afeção também pode desaparecer no segundo ano de vida ou prolongar-se durante toda a infância, ainda que com caraterísticas distintas.
Nesse caso, é frequente o eczema ficar mais seco, a pele mais vermelha e áspera e a descamação afetar essencialmente as pregas dos cotovelos e dos joelhos, os pulsos e a parte dorsal das mãos e dos pés.
Embora haja uma tendência para a afeção regredir pelo menos até ao início da adolescência, há situações em que as lesões persistem ou podem voltar na idade adulta. Se isso acontecer, além das zonas corporais afetadas já descritas, o eczema pode espalhar-se pelas pálpebras, lábios, mamilos, área genital e mãos.
É importante perceber que, como a pele atópica tem uma barreira de proteção mais frágil, os doentes com dermatite atópica são mais frequentemente vítimas de infeções virais da pele (moluscos contagiosos, verrugas vulgares e herpes simples) e de infeções bacterianas (impétigo vulgar).
Além disso, por vezes, basta estarem num ambiente quente e seco ou contactarem com detergentes fortes (sabões, champôs ou detergentes domésticos ou profissionais) para desenvolverem um eczema atópico.
Cuidados a ter
Quem possui pele atópica deve ter cuidados de higiene redobrados. Além de dever fazer uma hidratação frequente da pele.
Algumas das precauções a tomar são: preferir vestir roupa de algodão; tomar banhos rápidos e sem recorrer a produtos de higiene agressivos; e aplicar na pele emolientes próprios, como bálsamo, creme e leite.
Quando há lugar a lesões de eczema, o doente deve recorrer a terapêutica anti-inflamatória, como dermocorticóides ou inibidores da calcineurina.
Pele atópica nos adultos
Aproximadamente 10% dos doentes com pele atópica continuam a apresentar eczemas já na idade adulta. A dermatite atópica do adulto tem, muitas vezes, consequências graves.
As suas principais manifestações caraterizam-se por placas de eczema crónico, vermelhas, espessas e liquidificadas. Podem também surgir pápulas isoladas de prurigo.
Há, ainda, lugar a ataques agudos, vesiculosos ou exsudativos. A acompanhar estas lesões existe sempre um prurido intenso que afeta o estado moral, o sono e as atividades quotidianas do doente.
Geralmente, nesta fase da vida, o eczema atinge regiões corporais, como as mãos, o rosto, as pálpebras e as grandes dobras. Quando toda a pele é afetada, está-se perante um quadro de eritrodermia, que pode causar infeções e perturbações metabólicas e que pode obrigar a internamento hospitalar.
Como evitar as crises
Tal como na infância, a pele atópica carateriza-se por ser mais sensível a certos estímulos. Para prevenir ataques de prurido e eczemas, podem evitar-se alguns agentes particularmente irritantes, como produtos de higiene ou de limpeza, como sabões comuns ou desinfetantes, fortalecendo, assim, a barreira da pele.
Assim, devem sempre privilegiar-se os produtos próprios para as peles atópicas, secas e sensíveis, assim como testar primeiro a tolerância ao produto aplicando-o numa pequena região do corpo.
Também é importante evitar roupas de tecidos que se possam revelar irritantes e é fundamental enxaguar sempre bem o vestuário depois de o lavar, de modo a remover todos os resquícios de detergente.
Banhos quentes devem ser totalmente evitados, o ideal é tomar duches frios ou mornos, pois a água quente torna a pele muito ressequida.
Infeções
Como também já referimos, as pessoas com pele atópica estão mais suscetíveis a infeções. A dermatite atópica torna mais provável a infeção por micróbios e bactérias, resultando no eczema exsudativo.
Nos indivíduos com pele atópica, a infeção pelo vírus do herpes é mais grave, manifestando-se através de um aspeto pustulento e podendo deixar cicatrizes varioliformes.
Tratamento
O tratamento ou controlo da dermatite atópica nos adultos é em tudo semelhante à da que se sugere para as crianças. Os adultos com pele atópica devem:
- Adotar medidas de higiene apropriadas;
- Fazer um tratamento emoliente diário, com um creme hidratante adequado; uma das principais partes do tratamento está no cuidado da pele com hidratação constante, usando cremes focados em peles sensíveis e secas, e que seja feita logo após o banho, o que ajuda na manutenção da humidade da pele.
- Ectoin: Um estudo realizado em 2018 na Alemanha concluiu que o uso de cremes com Ectoin, composto natural que serve como protetor das células da perda de água por stress ou calo, em pacientes com dermatite atópica de leve a moderada, levou a uma redução significativa na gravidade do problema.
- Recorrer a um tratamento anti-inflamatório oral ou tópico, dermocorticoides e imunossupressores, sempre que assim se justificar.
Em 2018 um novo tipo de medicamento biológico foi aprovado para pessoas com dermatite atópica, uma substância chamada Dupilumabe. Ela age diretamente em duas proteínas (IL-4 e IL-3), que quando estão em alta no corpo levam à secreção de células inflamatórias, o que desencadeia os sintomas de uma crise.
O Dupilumabe funciona como um bloqueador para essas citocinas não causarem a inflamação sem impedir que elas funcionem, o que acarreta menos impactos e mais segurança no uso pelos pacientes. Os anti-histamínicos tomados por via oral podem ajudar com a coceira que acompanha essa doença.
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento.
Fototerapias
Em alguns casos, é sugerida a realização de fototerapia, ou seja, a exposição de doentes com pele atópica a raios UVB ou a raios UVA e UVB, os quais possuem uma ação anti-inflamatória e pigmentógena na pele. Naturalmente que estas sessões devem ser recomendadas e executadas por um dermatologista.
Medicamentos
Como dissemos, o controlo da dermatite atópica pode passar, muitas vezes, pelo recurso a corticoides. Porém, convém lembrar que os corticoides por via oral, os imunossupressores, são eficazes, mas podem ter efeitos secundários que importa considerar.
Assim, atualmente, é aconselhada uma corticoterapia local forte, que também pode apresentar excelentes resultados.