Síndrome de Tourette: o que é e como lidar
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Indíce
- 1. Como surge?
- 2. Tipos de tiques
- 3. Quais as causas?
- 4. Doenças Associadas
- 5. Qual o tratamento?
Estima-se que um por cento da população mundial sofra de Síndrome de Tourette, que é três vezes mais frequente nos homens do que nas mulheres.
A Associação Portuguesa de Síndrome de Tourette (APST) explica tratar-se de "uma doença neuropsiquiátrica que é caraterizada pela manifestação de tiques motores e fónicos", destacando que esta síndrome "afeta, sobretudo, crianças e adolescentes (cerca de 1%), mas apresenta também uma prevalência assinalável na idade adulta".
Como ocorre a Síndrome de Tourette
Os tiques manifestam-se através de movimentos e vocalizações (emissão de sons) sem sentido, parecendo inoportunos e fora de contexto. Estes tiques são involuntários, recorrentes e rápidos, sendo a sua frequência e intensidade variáveis.
Eles podem variar entre movimentos simples, como piscar os olhos ou abrir e fechar as mãos, os chamados tiques motores simples, a movimentos bastante mais complexos e que envolvem vários tipos de músculos, que muitas vezes parecem ser voluntários, ou seja, que a pessoa os faz deliberadamente. Estes últimos são chamados de tiques motores complexos.
Já os tiques fónicos podem traduzir-se num simples clarear de voz, pigarrear ou fungar (tiques fónicos simples), até à vocalização de palavras ou, mesmo, pequenas frases, sendo, neste caso, chamados de tiques fónicos complexos.
Os tiques têm início antes dos 18 anos de idade (normalmente entre os quatro e os seis anos) e aumentam de gravidade e intensidade, atingindo um pico por volta dos 10 a 12 anos, vindo a diminuir durante a adolescência.
A maioria dos tiques vai desaparecendo espontaneamente com o passar do tempo, mas, em cerca de 1% dos doentes, os tiques permanecem durante a vida adulta.
Tipos de tiques mais comuns
- Fazer caretas;
- Piscar repetidamente os olhos;
- Abanar a cabeça de um lado para o outro;
- Tossir, fungar, pigarrear ou cuspir;
- Sacudir ou encolher os ombros;
- Esticar os braços, estalar os dedos, bater palmas ou fazer outros movimentos repetitivos com os braços e as mãos;
- Dar chutos, saltar, rodar, torcer-se ou outros movimentos com os pés e as pernas;
- Repetir determinadas palavras;
- Dizer palavrões ou fazer gestos obscenos;
- Assobiar, gritar, gemer, emitir grunhidos ou outros sons estranhos e fora do contexto.
Quais as causas da Síndrome de Tourette?
Não são ainda conhecidas as causas desta síndrome, havendo estudos científicos que falam na existência de uma componente genética e de anomalias em determinados neurotransmissores cerebrais, nomeadamente, na dopamina. Os tiques tendem a piorar e a intensificar-se em situações de stress e cansaço.
Como é feito o diagnóstico
O diagnóstico é essencialmente clínico, realizado por um neuropediatra ou psiquiatra. De acordo com a APST, "para um doente ser diagnosticado com síndrome de Tourette, é necessário que esse doente apresente uma combinação de tiques motores (mais de um) e fónicos (pelo menos um) por um período superior a um ano, sendo que esses sintomas terão de ter início antes dos 18 anos".
Portanto, não basta que a pessoa tenha um único tique ou que estes se manifestem esporadicamente. O diagnóstico é feito através de manifestações clínicas e da sua evolução. Além da avaliação clínica, poderão ser feitos outros exames, como um eletroencefalograma ou uma ressonância, para excluir outras doenças.
A Síndrome de Tourette pode ser confundida com outras doenças, como a perturbação obsessivo-compulsiva, ansiedade ou perturbação de hiperatividade e défice de atenção. Esta patologia está, muitas vezes, associada a problemas de aprendizagem.
Doenças associadas
Sendo, como já referimos, muitas vezes, confundida com outras patologias, a Síndrome de Tourette está, por norma, associada a outras doenças, sendo normal que as crianças com tiques tenham também um ou mais dos seguintes problemas:
- transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH);
- transtorno obsessivo-compulsivo (TOC);
- ansiedade e problemas de aprendizagem.
No caso de adolescentes e adultos, a síndrome de Tourette poderá estar associada a depressão, distúrbio bipolar e a transtorno por uso de drogas.
De resto, a APST diz ser "extremamente comum que um doente com síndrome de Tourette satisfaça também os critérios de diagnóstico de, pelo menos, mais uma doença".
E "a perturbação de hiperatividade e défice de atenção e a perturbação obsessivo-compulsiva, por exemplo, encontram-se presentes em aproximadamente metade, ou até mais de metade, dos doentes com Síndrome de Tourette", considerando-se que "um doente com Síndrome de Tourette tem de ser tratado de acordo com a severidade de todos os sintomas que apresenta e não apenas de acordo com a severidade dos seus tiques".
A APST conclui que "os tiques são apenas a ponta do icebergue".
Tratamento da Síndrome de Tourette
Atendendo às comorbidades e à especificidade de cada doente, o tratamento vai variar de pessoa para pessoa, podendo o especialista recorrer a ansiolíticos, neurolépticos, psicoterapia ou estimulação cerebral profunda. É importante ressaltar que esta condição não tem cura, mas pode ser controlada.
A par do tratamento médico, existem algumas estratégias que os pais e restantes familiares do doente podem utilizar para ajudar a criança a viver melhor.
Desde logo, envolvendo os professores e os educadores que lidam com a criança, explicando-lhes como funciona a doença e como devem agir para diminuir o impacto junto dos colegas e, assim, normalizar os comportamentos que poderiam levar à estranheza e, até à chacota e à rejeição da criança por parte dos colegas.
De resto, castigar a criança por ter estes tiques, mesmo que nas situações mais inapropriadas, não vai resolver nada, podendo, mesmo, piorar a situação. Quando os tiques se intensificam por causa do stress, a meditação ou a prática de ioga ou de um desporto/atividade que ajude o doente a relaxar podem ajudar.