Prender os espirros pode causar um ataque cardíaco?

O espirro é uma função reflexa do corpo que ocorre quando há irritação das mucosas nasais. Existem algumas crenças populares sobre as consequências de prender os espirros para a saúde. Uma delas é a possibilidade de provocar um ataque cardíaco.

Neste artigo, além de ficar a saber se esta ideia tem fundamento científico, pode conhecer outras questões relacionadas com o espirro e entender por que faz bem espirrar.

Por que espirramos?

Alergénios ou partículas estranhas, ao entrarem em contacto com as mucosas nasais, podem provocar irritação. Nesse caso, é enviado um sinal ao cérebro, indicando a necessidade de "limpar" o nariz. O cérebro prepara, então, o corpo para espirrar, tendo em conta a contração iminente. Em segundos, os olhos fecham-se, a língua encosta ao céu da boca e os músculos preparam-se para o espirro.

No entanto, espirrar também pode ser causado por várias condições médicas, algumas das quais podem exigir acompanhamento médico, como, por exemplo, constipação, rinite alérgica ou gripe.

Espirrar é, assim, o modo como o corpo elimina as substâncias irritantes, tais como vírus, pólen ou poeiras do nariz e da garganta. Os espirros podem ser bastante poderosos, expelindo até 160 quilómetros por hora, dezenas de milhares de gotículas do nariz. Contudo, há pessoas que têm um espirro menos potente, o que pode fazer com que espirrem muitas vezes seguidas.

Relação entre prender os espirros e ataques cardíacos

Prender os espirros não causa ataques cardíacos. Pode afetar temporariamente o ritmo cardíaco, mas o coração não para.

Segundo um artigo publicado pela Healthline, um dos principais sites de informação de saúde dos Estados Unidos da América, quando espirramos, sucedem vários eventos fisiológicos que afetam brevemente o ritmo cardíaco. Primeiro, ao inspirarmos profundamente, aumenta a pressão no peito e reduz o fluxo sanguíneo para o coração, diminuindo a tensão arterial e aumentando os batimentos cardíacos por minuto. Em seguida, a garganta fecha-se, permitindo que a pressão abdominal acumulada se mantenha para impulsionar o espirro.

Quando, finalmente, espirramos, a pressão abdominal é libertada rapidamente, acelerando o fluxo sanguíneo de volta ao coração e aumentando a pressão arterial, enquanto diminuem os batimentos por minuto. Esta situação pode originar uma breve interrupção do batimento cardíaco, conforme o coração compensa o aumento repentino da tensão arterial.

Um cardiologista citado num artigo da Cleveland Clinic, também dos EUA, realça a importância de percebermos a diferença entre paragem cardíaca e pausa cardíaca. Em termos médicos, "paragem cardíaca" refere-se a uma pausa que dura pelo menos três segundos, o que pode indicar um problema no ritmo cardíaco. Embora os espirros tenham o potencial de diminuir a frequência cardíaca por um breve período, não costumam causar pausas clinicamente relevantes.

No mesmo artigo, é mencionada a "síncope de espirro", que consiste num desmaio devido a uma queda repentina na frequência cardíaca e tensão arterial durante o espirro. Ainda que seja um fenómeno raro, é aconselhável procurar um médico se desmaiar ou sentir tonturas ao espirrar.

Um artigo publicado pela Universidade de Arkansas para Ciências Médicas explica que o coração não para completamente ao espirrarmos. O que ocorre é um aumento da pressão intratorácica, reduzindo temporariamente o fluxo sanguíneo de volta ao coração. Para compensar isso, o coração ajusta momentaneamente o seu batimento cardíaco. Apesar destas mudanças, a atividade elétrica do coração continua.

Segurar o espirro e possíveis consequências

Segurar um espirro pode resultar em possíveis danos significativos, devido ao aumento da pressão no sistema respiratório, que pode ser até 24 vezes maior do que o próprio espirro. Estes danos podem incluir:

• Rompimento do tímpano, podendo causar perda auditiva temporária ou permanente;
• Infeção do ouvido médio por causa do redirecionamento do ar para os ouvidos, ar este que pode transportar bactérias ou muco infetado;
• Rompimento de vasos sanguíneos nos olhos, nariz ou tímpanos;
• Lesão do diafragma, em casos raros, o ar pressurizado pode ficar preso no diafragma, colapsando os pulmões e exigindo hospitalização imediata;
• Rutura de aneurisma cerebral, uma condição com risco de vida, que causa sangramento no crânio;
• Danos na garganta, ou seja, pode ocorrer rompimento da parte posterior da garganta, causando dor intensa e dificuldade em falar ou engolir;
• Fraturas de costelas, devido ao aumento repentino da pressão, especialmente em adultos mais velhos.

Benefícios de espirrar

Espirrar é um mecanismo essencial que o corpo utiliza para limpar o nariz quando substâncias estranhas, como pó, pólen ou fumo, invadem as narinas, causando irritação ou prurido. É também uma das primeiras linhas de defesa do organismo contra bactérias e vírus. O ato de espirrar ajuda a manter limpas e desobstruídas as vias aéreas superiores.

Não espirrar pode resultar numa acumulação de muco, que pode ser empurrado de volta para as trompas de eustáquio. Estas pequenas passagens, que ligam a garganta ao ouvido médio, abrem-se durante a deglutição, bocejo ou espirro, permitindo que a pressão do ar ou líquido não se acumulem nos ouvidos.

Durante doenças como alergias, gripe ou constipações, espirrar pode ocorrer com mais frequência à medida que o corpo trabalha para eliminar os fluidos e substâncias estranhas. As alergias, em particular, desencadeiam uma resposta do sistema imunológico que inclui a libertação de histamina para combater os alergénios invasores. Isto resulta em sintomas como espirros, lacrimejo ou tosse.

Espirrar sempre, mas respeitando a etiqueta respiratória

O espirro é uma função natural do corpo humano e desempenha um papel importante na proteção das vias respiratórias. No entanto, é essencial espirrar de maneira segura e higiénica, para evitar a propagação de vírus, seguindo as regras da etiqueta respiratória, como cobrir a boca e nariz com um lenço de papel.

Após espirrar, deve colocar o lenço no lixo e lavar bem as mãos com água e sabão ou usar gel desinfetante. Se não tiver um lenço de papel, o melhor é espirrar para o cotovelo, afastando-se das outras pessoas.