Língua presa no bebé: como pode afetar a amamentação?
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Indíce
- 1. O que é?
- 2. Causas e fatores de risco
- 3. Sintomas
- 4. Diagnosticar
- 5. Tratamento
A anquiloglossia, popularmente conhecida como língua presa, é uma condição que limita a função da língua do bebé. Pode afetar significativamente a amamentação, impedindo que os bebés se alimentem devidamente.
Ainda que na maioria das vezes não cause problemas, alguns bebés precisam de tratamento para evitar complicações. Saiba quais as causas e sintomas desta condição, bem como pode ser diagnosticada e tratada.
O que é a anquiloglossia?
A anquiloglossia é uma malformação congénita, o que significa que o bebé nasce com ela.
Esta malformação altera a mobilidade e função da língua. Ocorre quando o freio lingual, uma pequena dobra de tecido que liga a parte inferior da língua ao pavimento da boca, é excessivamente curto ou apertado, limitando os movimentos da língua.
Esta condição pode afetar a amamentação, pois os bebés podem ter dificuldade em pegar ou sugar eficientemente, resultando na ingestão insuficiente de leite. Além disso, a má pega pode causar desconforto para a mãe durante a amamentação.
Causas e fatores de risco
Durante o desenvolvimento do feto no útero, o freio lingual fica preso à língua. Antes do bebé nascer, a membrana fica normalmente mais fina e separa-se da língua, permitindo a liberdade de movimentos. No entanto, nem sempre ocorre a separação. Embora não se saiba ao certo a razão por que alguns bebés nascem com a língua presa, acredita-se que há uma componente genética e hereditária.
A anquiloglossia afeta entre 1% e 11% dos recém-nascidos e parece ser mais prevalente em bebés do sexo masculino. Além disso, é mais comum em primeiros filhos.
Sintomas de língua presa no bebé
Para perceber se o seu bebé tem a língua presa, observe o formato da língua quando este chora ou levanta a língua. A ponta da língua pode parecer um pequeno coração. Também poderá notar que o bebé:
- Não consegue movimentar muito a língua de um lado para o outro;
- Não alcançar com a língua a parte superior da gengiva ou o céu da boca;
- Não consegue ultrapassar as gengivas com a língua;
- Não consegue curvar a língua em direção ao nariz ou não consegue lamber os lábios.
Poderá ainda, quando o bebé chorar ou bocejar e a língua recuar, observar se o freio lingual está em tensão por o bebé ter o freio da língua curto.
Como esta condição pode dificultar a amamentação, há outros sinais a ter em conta:
- Dificuldade na pega para mamar;
- Amamentação demorada ou mamadas com muita frequência;
- Tossir ou engasgar-se durante a mamada;
- Pouco ganho de peso;
- Falta de sons de deglutição.
As mães que amamentam também pode apresentar sintomas relacionados com a língua presa do bebé, nomeadamente:
- Mamilos rachados e doloridos;
- Dor ou desconforto durante a amamentação;
- A longo prazo, quantidade de leite insuficiente.
Como estes últimos sintomas não são exclusivos da anquiloglossia, é importante aconselhar-se com o pediatra para identificar a causa dos sintomas e encontrar uma solução.
Diagnosticar a anquiloglossia
Normalmente, a língua presa é diagnosticada logo após o nascimento do bebé. Alterações na parte inferior da língua e na forma como esta se fixa ao pavimento da boca são comuns e a maioria não é motivo para preocupações. Os médicos só diagnosticam esta condição em bebés com o freio curto e função limitada da língua.
Assim, para diagnosticar a anquiloglossia, o pediatra vai:
- Recolher informação sobre o histórico de amamentação, nomeadamente, dificuldade na pega, frequência e duração das mamadas e se a mãe bombeia o leite e/ou complementa com leite em pó;
- Perguntar se a amamentação causa desconforto ou dor à mãe;
- Fazer um exame físico ao bebé, observando atentamente a língua e todas as áreas da boca à procura de sinais de língua presa ou outras condições médicas;
- Observar diretamente a amamentação.
Ainda que não existam testes específicos, há alguns sistemas de classificação que podem ajudar a chegar a um diagnóstico, nomeadamente a escala de classificação de anquiloglossia de Coryllos para verificar o tipo de língua presa:
- Tipo I: O freio é fino e elástico e fixa a ponta da língua à crista atrás dos dentes inferiores.
- Tipo II: O freio é fino e elástico, e a língua está ancorada entre 2 a 4 milímetros da ponta ao pavimento da boca, perto da crista atrás dos dentes inferiores.
- Tipo III: O freio é espesso e rígido e fixa a língua desde o meio da parte inferior até o pavimento da boca.
- Tipo IV: O freio está atrás ou não visível, mas ao tocar a área com as pontas dos dedos, é possível sentir fibras em tensão ancorando a língua, com ou sem superfície espessada e brilhante no pavimento da boca.
Uma avaliação completa tem em conta não só o grau de Coryllos, mas também a capacidade de movimentação da língua do bebé. A ferramenta de avaliação Hazelbaker para função do freio lingual (HATLFF) ou uma ferramenta semelhante pode ser usada para avaliar a função da língua.
Opções de tratamento para a língua presa no bebé
As recomendações da Organização Mundial de Saúde incentivam o aleitamento materno em exclusivo até os 6 meses, assim, o reconhecimento precoce de quaisquer obstáculos à sucção e a determinação das possíveis causas devem ser uma prioridade.
Em alguns casos de bebés com língua presa, ajustando a posição de amamentação ou a pega do bebé, é possível superar o desafio da amamentação. Contudo, se essas medidas não forem suficientes, pode ser necessário um procedimento cirúrgico, durante o qual o freio lingual é cortado para permitir uma maior mobilidade da língua do bebé.
O tratamento cirúrgico da anquiloglossia é recomendado apenas nos casos que interferem nos mecanismos de sucção. O procedimento cirúrgico mais frequente é a frenotomia. Trata-se de um procedimento simples, com baixo risco de complicações, e com eficácia a curto e longo prazo na melhoria da qualidade da amamentação, com ênfase na diminuição do desconforto, dor e trauma nos mamilos das mães.
Os pais preocupados devem procurar orientação de um otorrinolaringologista pediátrico. Se a principal preocupação for a dificuldade na amamentação, um médico ou enfermeiro especializado em alimentação infantil pode ajudar a avaliar a situação e oferecer intervenções não cirúrgicas.
Complicações
Não é possível prever se o não tratamento da anquiloglossia resultará em complicações. No entanto, em certos casos, a não intervenção pode trazer problemas à medida que a criança cresce:
- Problemas dentários, tais como cáries, inflamação das gengivas e um espaço entre os dois dentes inferiores da frente, devido à limitação de movimento da língua para remover resíduos alimentares;
- Excesso de salivação e desconforto na boca;
- Engasgos ou dificuldade em engolir alimentos sólidos quando a criança começa a introduzi-los na dieta;
- Dificuldades em realizar atividades simples, como lamber um gelado;
- Dificuldades com certos sons ao falar. Por exemplo, a pronúncia do "r" pode ser complicada.
É aconselhável que converse com o pediatra para determinar a melhor abordagem para o seu bebé.