Doação de medula óssea: esclareça as suas dúvidas
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Indíce
- 1. O que é a medula?
- 2. Quando é necessário?
- 3. Tipos de transplante
- 4. Como é o processo?
- 5. Quem pode doar?
O transplante de medula óssea, ou infusão de células estaminais, está indicado no tratamento de doenças congénitas ou desenvolvidas após o nascimento, como as leucemias agudas ou crónicas, bem como de imunodeficiências e aplasias medulares, sendo necessário por isso, que seja feita uma doação de medula óssea.
O que é a medula óssea
A medula óssea é um tecido de consistência gelatinosa e que contém muitos vasos sanguíneos que preenchem o interior dos ossos longos bem como as cavidades esponjosas dos ossos.
É na medula óssea que se encontram as células progenitoras, ou células estaminais capazes de se transformarem e para darem origem a qualquer tipo de célula do sangue periférico, nomeadamente, glóbulos vermelhos, glóbulos brancos ou plaquetas. A medula óssea também armazena gordura que irá transformar-se em energia de acordo com as necessidades do corpo.
As células estaminais contidas na medula óssea renovam-se constantemente ao longo da vida.
Resumindo, a medula óssea é responsável pela produção dos componentes do sangue que são necessários à sobrevivência do ser humano: os glóbulos vermelhos que transportam o oxigénio, os glóbulos brancos, responsáveis pela prevenção de infeções e as plaquetas, que impedem a ocorrência de hemorragias.
Quando é necessário um transplante de medula óssea
Fazer um transplante de medula óssea implica a substituição da medula deficitária por células estaminais normais retiradas da medula óssea do dador.
O transplante de medula óssea é necessário quando a medula óssea do recetor não é mais capaz de produzir células sanguíneas saudáveis, o que pode acontecer em face de doenças congénitas ou adquiridas ou como resultado do tratamento intensivo do cancro.
Eis algumas doenças que podem ser tratadas através de um transplante de medula óssea:
- Leucemia – cancro que destrói os glóbulos brancos;
- Anemia aplástica grave (quando a medula óssea é insuficiente);
- Linfoma – outro tipo de cancro que destrói os glóbulos brancos;
- Mieloma – cancro que destrói as células plasmáticas;
- Outras patologias do sangue, do sistema imunológico e que afetam o metabolismo, como é o caso da anemia falciforme, imunodeficiência combinada grave, talassemia e síndrome de Hurler.
Os diferentes tipos de transplante de medula óssea
Há dois tipos principais de transplante de medula óssea, o autólogo e o alogénico.
Transplante autólogo
O transplante autólogo é uma espécie de auto transplante, já que são as células progenitoras hematopoiéticas (células estaminais com potencial para dar origem a todos os tipos de células sanguíneas) do próprio paciente que lhe são retiradas para depois virem a ser transplantadas. A colheita destas células acontece antes do paciente ser submetido a determinados tratamentos de quimioterapia e radioterapia e a infusão é feita após a conclusão destes tratamentos.
Transplante alogénico
No caso do transplante alogénico, as células progenitoras hematopoiéticas são provenientes de um dador. O ideal é que o dador seja um irmão ou irmã com uma composição genética semelhante. Em determinados casos, um filho ou o pai do paciente, com apenas metade da correspondência genética, pode também ser dador. Neste caso, o transplante é chamado de haploidêntico.
De resto, e na maioria dos casos, não havendo um irmão que possa ser dador, pode ser usada a medula óssea de uma pessoa com uma composição genética semelhante, daí os constantes apelos a que as pessoas se inscrevam como dadoras.
O sangue de cordão umbilical também pode ser usado (há já vários anos que a recolha do sangue do cordão umbilical é usada como forma de criar uma salvaguarda, tendo sido criado o Banco Público de Células do Cordão Umbilical), já que é rico em células estaminais.
Como se processa o transplante
O processo de transplante começa com a realização de testes de compatibilidade, onde são analisadas amostras do sangue do recetor e do dador, procurando-se a maior compatibilidade possível, de forma a evitar um processo de rejeição da medula por parte do organismo do recetor.
O recetor é então submetido a um tratamento que ataca as células doentes e destrói a própria medula, para que possa receber a medula saudável, num processo semelhante a uma transfusão de sangue.
A colheita das células estaminais pode ser feita pela extração de medula óssea ou a partir do sangue periférico, num processo designado por aférese.
Para a colheita de medula, o dador é submetido a uma anestesia geral, sendo-lhe retirado, através de uma punção do osso da bacia, a quantidade necessária de medula óssea que é administrada ao recetor através da veia, tal como acontece numa transfusão de sangue.
As células do dador entram na circulação sanguínea e vão encontrar na medula do doente as condições favoráveis para se multiplicarem e diferenciarem.
De acordo com a Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL), a recuperação de uma medula normal demora várias semanas. “Para o dador, os riscos deste processo são idênticos aos de qualquer outra anestesia de curta duração e a sua medula óssea recupera rapidamente, sem que haja perigo para a sua saúde.”
Já na aférese, a colheita das células estaminais circulantes é feita através de uma veia periférica. Durante este processo, “o dador fica ligado a uma máquina por onde circula o seu sangue, sendo separadas as células estaminais que serão armazenadas num saco de transfusão; o restante sangue é devolvido ao dador através de outra veia.”
Trata-se de um processo que poderá demorar entre quatro a seis horas e não tem praticamente qualquer risco, sendo que a decisão sobre o tipo de colheita é determinada pelo dador de acordo com as informações fornecidas pelo médico hematologista.
Quem pode ser dador
A resposta à pergunta “porquê ser dador de medula óssea” é fácil: porque estará a ajudar a salvar a vida de alguém, seja de um familiar direto ou de uma pessoa que não conhece e que está a lutar pela vida.
A pergunta sobre quem pode ser dador merece uma resposta mais longa, mas que se esquematiza desta forma e está disponível no site da APCL:
O dador deverá:
- Ter entre 18 e 45 anos;
- Peso mínimo de 50kg;
- Altura superior a 1,5m;
- Ser saudável;
- Nunca ter recebido transfusões após 1980;
Nota: Não precisa de estar em jejum
Não poderá registar-se como dador de medula óssea se tiver pelos menos uma das seguintes condições:
- Idade inferior a 18 anos ou superior a 45 anos;
- Altura inferior a 1.50m;
- Peso inferior a 50kg;
- Obesidade mórbida, mesmo nos casos de colocação de banda ou bypass gástrico;
- Sofrer de patologia cardíaca;
- Ter tido Hepatite B ou C, alguma vez na vida;
- Ter uma doença oncológica;
- Ter recebido uma transfusão de sangue depois de 1980;
- Sofrer de uma doença autoimune (artrite reumatóide ou lúpus, por exemplo);
- Ter uma doença infetocontagiosa;
- Sofrer de insuficiência renal;
- Ter patologia da tiroide;
- Ter diabetes;
- Sofrer de anemia crónica;
- Ter uma hérnia discal;
- Sofrer de fibromialgia;
- Ter glaucoma;
- Não compreender a língua portuguesa tanto na sua forma oral como escrita;
- Não ter residência estabelecida em Portugal.