
Óculos de luz azul: funcionam ou são apenas mito?
• 4 mins. leitura
Indíce
- 1. O que é a luz azul?
- 2. É pior do que luz natural?
- 3. Como funcionam?
- 4. Ajudam a prevenir?
A luz azul está presente na maioria dos dispositivos que usamos no dia a dia, desde computadores, televisões ou smartphones.
Neste artigo, vamos perceber o real impacto deste tipo de luz na nossa visão e sono, assim como se a ciência recomenda a utilização de óculos de luz azul em detrimento dos convencionais.
O que é a luz azul e que impacto pode ter?
A luz azul é uma das cores do espectro de luz visível. As restantes são o vermelho, laranja, amarelo, verde, índigo e violeta. Quando combinadas, criam a luz branca. Um exemplo desta luz é a que provém do brilho do sol, tratando-se de uma luz branca natural.
A exposição à luz azul, que tem um comprimento de onda menor com uma maior energia, pode afetar a retina e contribuir para a fototoxicidade ou sensibilidade à luz.
Estudos realizados em animais com exposição prolongada à luz azul natural demonstram danos na retina, mas é necessário ter em conta que são utilizados níveis de exposição muito superiores aos verificados em situações normais.
As lâmpadas LED e fluorescentes compactas também emitem luz azul. As lâmpadas LED, em concreto, são usadas para a iluminação de fundo de ecrãs de computador, televisão e smartphones.
No entanto, o nível de luz azul desses dispositivos é significativamente menor do que os níveis de luz azul natural.
Já à noite, a exposição à luz azul pode, potencialmente, causar problemas de sono ao alterar o relógio interno do organismo. Isso ocorre devido ao impacto da luz azul na supressão de melatonina, o que acaba por afetar o ciclo do sono.
Alguns estudos sugerem que a exposição excessiva à luz azul visível também pode causar fadiga ocular.

A luz azul é mais prejudicial do que a luz natural?
O nível de luz azul, emitido de forma natural ou através de dispositivos eletrónicos, é menor do que o nível de luz natural.
Vários estudos têm demonstrado que a exposição excessiva à luz solar pode aumentar o risco de algumas doenças oculares, sendo que os raios ultravioletas são o componente principal no desenvolvimento dessas doenças.
Nesse sentido, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) não corrobora a necessidade do uso de óculos de luz azul, uma vez que não há evidências científicas robustas que o recomendem.
A recomendação da SPO recai antes na utilização de óculos de sol, que protegem contra a radiação solar. Deve-se escolher óculos cujas lentes filtrem 99% a 100% da luz UV, tanto UV-A como UV-B.
Como funcionam os óculos com filtro de luz azul?
As lentes dos óculos com filtro de luz azul atenuam, de forma seletiva, a transmissão de luz visível de comprimento de onda curto, especialmente na faixa de 400 a 500 nanómetros.
O facto é que o UV é bloqueado por tratamentos específicos em lentes, mas não está diretamente relacionado com os filtros de luz azul.
Estes dispositivos oftalmológicos podem conter ou ser revestidos com substâncias específicas (cromóforos) que absorvem a luz incidente de comprimento de onda curto, sendo que a extensão da atenuação depende das propriedades de absorção específicas do cromóforo.
Os óculos de luz azul ajudam a prevenir problemas oculares?
A proteção de luz azul destes óculos ajuda a reduzir a quantidade de luz azul absorvida pelos olhos, mas as investigações científicas já realizadas não confirmam que ajude a prevenir problemas oculares ou de sono.
Em comparação com as lentes sem filtro de luz azul, os ditos óculos para proteger da luz azul podem não atenuar os sintomas de cansaço visual provocado pelo uso do computador. Esta é a conclusão de uma revisão sistemática divulgada em 2023.
Os autores do estudo enfatizam o facto de não terem encontrado nenhuma diferença clinicamente significativa nas alterações do limiar de fusão de cintilação, ou seja, a frequência máxima na qual a pessoa percebe que uma luz está a piscar.
Outra revisão de 17 ensaios clínicos randomizados, liderada por investigadores da Universidade de Melbourne, refere que os efeitos potenciais na qualidade do sono foram inconclusivos. Além disso, os ensaios apresentam resultados díspares entre as populações heterogéneas.
Por isso, as evidências clínicas encontradas não apoiam as alegações de que as lentes dos óculos com filtro de luz azul afetem a qualidade do sono ou que protegem contra danos na retina.
Apesar de dispositivos tecnológicos, como computadores, telemóveis e tablets, emitirem algum grau de luz azul, a revisão não apoia a prescrição de lentes com filtro de luz azul para a população em geral, uma vez que questiona os benefícios relacionados com a redução do cansaço visual digital.
Normalmente, as lentes dos óculos de luz azul filtram cerca de 10% a 25% da luz azul, dependendo do produto usado.
Ou seja, os óculos de luz azul podem ajudar a reduzir a quantidade de luz azul absorvida pelos olhos, mas não os protegem nem melhoram a saúde ocular.
Filtrar níveis mais altos de luz azul exigiria, como sugere a revisão, que as lentes tivessem uma tonalidade âmbar óbvia, o que teria um efeito substancial na perceção das cores.

Como prevenir a fadiga ocular?
A fadiga ocular pode não estar relacionada com a luz azul, pelo que nada melhor do que um exame visual para perceber qual a causa exata.
Contudo, o tempo prolongado de exposição a ecrãs diminui a taxa natural de piscadelas oculares, reduzindo a película de lágrimas que reveste os olhos, deixando-os secos.
Para evitar que isso aconteça, pode adotar algumas estratégias:
- Fazer pausas após duas horas de ecrã;
- Usar lágrimas artificiais para refrescar os olhos;
- Usar óculos para computador em vez de lentes de contacto;
- Manter as superfícies dos ecrãs digitais e os óculos limpos;
- Piscar os olhos, uma vez que as pessoas não o fazem com tanta frequência ao ler ou quando estão expostas a ecrãs digitais;
- Ao conduzir, manter as saídas de ar distantes dos olhos;
- Reduzir o brilho diurno com óculos de sol polarizados, principalmente no exercício da condução;
- Fazer pausas frequentes durante o tempo de ecrã. Experimente, a cada 20 minutos, olhar para um objeto a cerca de 6 metros de distância por, pelo menos, 20 segundos.