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Intolerância à frutose: como viver sem fruta na dieta?
• 7 mins. leitura
Indíce
- 1. O que é?
- 2. Que tipos existem?
- 3. Sintomas
- 4. Diagnóstico
- 5. Tratamentos
A intolerância à frutose é um desafio alimentar e nutricional significativo, especialmente devido à presença generalizada deste açúcar, não só em alimentos naturais como processados.
Estima-se que 1 em cada 20 mil a 1 em cada 60 mil indivíduos em todo o mundo sofra de intolerância hereditária à frutose, uma condição genética rara. Na Europa, a prevalência estimada varia entre 1 em 18 mil e 1 em 31 mil indivíduos. Por outro lado, a intolerância alimentar à frutose é uma condição mais comum, podendo afetar 1 em cada 3 pessoas.
Continue a ler para descobrir como identificar, gerir e viver bem com esta condição.
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O que é a intolerância à frutose?
Trata-se de uma perturbação metabólica caraterizada pela incapacidade do organismo de digerir ou metabolizar adequadamente a frutose, um tipo de açúcar naturalmente encontrado na fruta, vegetais, mel e também em alimentos processados.
Esta condição pode ter diversas causas e manifestações clínicas, dependendo do tipo de intolerância envolvida.
Que tipos de intolerância à frutose existem e quais as suas causas?
"Intolerância à frutose" é um termo geral que se refere a duas condições distintas: a intolerância alimentar à frutose e a intolerância hereditária à frutose, sendo esta última associada a potenciais consequências mais graves. As causas variam consoante o tipo de intolerância.
Intolerância alimentar à frutose
Também conhecida como má absorção de frutose, esta condição é mais comum e resulta de uma dificuldade em absorver a frutose no intestino delgado. Tende a surgir na idade adulta e a ingestão de alimentos ricos em frutose pode causar sintomas desconfortáveis.
A intolerância alimentar à frutose ocorre devido a um funcionamento ineficaz dos transportadores intestinais de frutose (GLUT5), responsáveis pela sua absorção. Embora todos tenhamos um limite para a quantidade de frutose que conseguimos digerir, esse limite pode variar entre indivíduos e ser afetado por fatores como:
- Doenças gastrointestinais, como doença celíaca, doença de Crohn, síndrome do cólon irritável ou gastroenterite;
- Stress;
- Uso prolongado de antibióticos.
Intolerância hereditária à frutose
Esta é uma condição genética rara, causada pela ausência ou mau funcionamento de uma enzima essencial para metabolizar a frutose, a aldolase B, presente no fígado, rim e intestino.
A intolerância hereditária à frutose é transmitida geneticamente. Para que a condição se manifeste, ambos os progenitores devem ser portadores do gene mutado. Neste caso, há uma probabilidade de 25% de a criança herdar a doença.
Os sintomas aparecem normalmente quando os bebés começam a consumir alimentos sólidos que contêm frutose. A ausência de aldolase B impede o metabolismo correto da frutose no fígado, o que pode levar a:
- Hipoglicemia (níveis baixos de açúcar no sangue);
- Acumulação de toxinas no fígado e nos rins, podendo causar danos graves, se não for tratada.
Pessoas com intolerância hereditária à frutose devem evitar completamente alimentos que contenham frutose e sacarose (um açúcar composto por frutose e glicose). Caso contrário, podem ocorrer complicações graves, devido à incapacidade do organismo de converter estes açúcares em energia.
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Quais os sintomas da intolerância à frutose?
Os sintomas e complicações variam conforme o tipo de intolerância à frutose.
Sintomas da intolerância alimentar à frutose
Em pessoas com intolerância alimentar à frutose, a ingestão de alimentos ricos neste açúcar pode causar desconforto gastrointestinal, como:
- Inchaço abdominal;
- Diarreia;
- Flatulência;
- Dores abdominais;
- Náuseas.
Estes sintomas ocorrem porque a frutose não digerida fermenta no intestino, provocando reações semelhantes às da síndrome do intestino irritável. A má absorção de frutose pode também interferir na absorção de nutrientes, como o ferro, e, em casos mais graves, levar à fadiga crónica.
Sintomas da intolerância hereditária à frutose
Na intolerância hereditária à frutose, os sintomas surgem geralmente nos bebés, com a introdução de alimentos sólidos que contêm frutose, sacarose ou sorbitol.
Os sintomas iniciais incluem:
- Náuseas e vómitos;
- Inchaço abdominal;
- Dor abdominal;
- Icterícia (coloração amarela da pele e dos olhos);
- Hipoglicemia (níveis baixos de açúcar no sangue);
- Atraso no crescimento.
Se a frutose não for eliminada da dieta, podem ocorrer complicações a longo prazo, tais como:
- Lesões no fígado (hepatomegalia, cirrose);
- Lesões renais (síndrome de Fanconi, nefrocalcinose);
- Hemorragias;
- Letargia, convulsões e, em casos extremos, coma ou falência de órgãos.
A maioria das pessoas com esta condição desenvolve uma aversão natural a fruta, sumos e alimentos doces, devido à gravidade dos sintomas. Em casos não diagnosticados até à idade adulta, verifica-se frequentemente uma menor incidência de cáries dentárias.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da intolerância à frutose depende do tipo de intolerância em questão e envolve diferentes exames e abordagens.
Diagnóstico da intolerância alimentar à frutose
Diagnosticar a intolerância alimentar à frutose pode ser mais desafiante, uma vez que os sintomas podem sobrepor-se aos de outras condições, como a síndrome do intestino irritável.
O principal teste utilizado é o teste respiratório da frutose, que consiste em beber uma solução com frutose dissolvida. Posteriormente, é medida a quantidade de metano e hidrogénio exalada. Embora este teste não seja completamente conclusivo, esta medição pode indicar se há dificuldades na digestão da frutose.
Além disso, o médico poderá pedir informações detalhadas sobre os padrões alimentares. Manter um registo alimentar, anotando os alimentos consumidos e os sintomas sentidos, pode ajudar a identificar possíveis associações entre a ingestão de frutose e os sintomas.
Diagnóstico da intolerância hereditária à frutose
O médico pode realizar vários exames para diagnosticar a intolerância hereditária à frutose, geralmente em bebés que começam a apresentar sintomas. Alguns dos testes utilizados para confirmar esta condição incluem:
- Testes de açúcar no sangue;
- Análise à urina;
- Teste genético;
- Biópsia hepática;
- Testes enzimáticos.
Além disso, o bebé será submetido a um exame físico, durante o qual o médico pode verificar se o baço ou o fígado estão aumentados; ou se há sinais de icterícia.
Os testes genéticos são o método mais preciso para confirmar a intolerância hereditária à frutose. Após o diagnóstico, é essencial o acompanhamento por um nutricionista, para garantir uma dieta totalmente isenta de frutose. Com estas medidas, a pessoa pode levar uma vida saudável e ativa.
Como é feito o tratamento da intolerância à frutose?
O tratamento da intolerância à frutose também varia de acordo com o tipo de condição. No entanto, seja qual for o tipo de intolerância, é essencial um acompanhamento médico e nutricional regular para garantir que a dieta é equilibrada e que o doente mantém um bom estado de saúde.
Tratamento da intolerância alimentar à frutose
O tratamento para a intolerância alimentar à frutose tem por base a redução da ingestão deste açúcar, para evitar sintomas gastrointestinais.
Normalmente, numa fase aguda, a redução da ingestão de alimentos ricos em frutose alivia os sintomas em duas a seis semanas.
Após a melhoria dos sintomas, os alimentos podem ser reintroduzidos de forma gradual, para determinar a quantidade de frutose que o indivíduo tolera sem desconforto. Geralmente, as pessoas com má absorção de frutose conseguem consumir entre 10 a 15 gramas de frutose por dia sem problemas.
Em alguns casos, é recomendada a adoção de uma dieta baixa em FODMAP (Oligossacarídeos, Dissacarídeos, Monossacarídeos e Polóis fermentáveis), que inclui a redução de outros açúcares fermentáveis além da frutose.
É útil manter um diário alimentar, para identificar alimentos desencadeadores de sintomas e ajustar a dieta conforme necessário.
Ao adotar estas estratégias, a maioria das pessoas com má absorção de frutose consegue gerir os sintomas de forma eficaz e melhorar a qualidade de vida.
Tratamento da intolerância hereditária à frutose
O tratamento para a intolerância hereditária à frutose é essencialmente dietético e consiste na eliminação rigorosa de alimentos que contenham frutose, sacarose e sorbitol. Estes açúcares estão presentes na fruta, vegetais, alimentos processados e até em medicamentos em forma de xarope.
A dieta deve ser mantida durante toda a vida, pois mesmo pequenas quantidades de frutose podem provocar sintomas graves, como dores abdominais, vómitos e, em crianças, atraso no desenvolvimento.
Dada a complexidade da dieta e a variabilidade do conteúdo de frutose nos alimentos, é fundamental consultar um nutricionista. Este profissional ajudará a gerir aspetos práticos, como o impacto do armazenamento, do método de preparação e da temperatura no teor de frutose.
Como a exclusão de fruta e outros alimentos ricos em nutrientes pode levar a deficiências, recomenda-se a suplementação com multivitamínicos sem açúcar, especialmente para garantir níveis adequados de vitamina C e ácido fólico.
É importante fazer o seguimento regular da função hepática, renal e do crescimento em crianças, sobretudo se houver dificuldade em aderir à dieta.
Embora a intolerância hereditária à frutose não tenha cura, a adesão precoce e rigorosa à dieta permite que os doentes tenham um desenvolvimento e qualidade de vida normais.
Que alimentos evitar?
Na intolerância à frutose, é essencial limitar ou eliminar da dieta alimentos que contenham elevados níveis deste açúcar.
A frutose pode ser encontrada em muitos alimentos e bebidas, tanto em fontes naturais como em alimentos processados. Eis os principais alimentos a evitar:
- Refrigerantes e bebidas açucaradas;
- Sumos de fruta;
- Frutos ricos em frutose, como maçãs, peras, melancia, ameixas, cerejas e pêssegos;
- Frutos cristalizados e frutos enlatados;
- Barras de cereais, bolachas, gelados e doces que contenham frutose;
- Adoçantes como mel, agave, xarope de milho, xarope de ácer, melaço e açúcar de palma ou de coco;
- Vegetais com níveis mais elevados de frutose, como ervilhas, espargos, curgetes, alcachofras, alho-francês, quiabos, cogumelos e pimentos;
- Produtos de panificação que contenham trigo, como pães e massas, que podem ter frutose adicionada;
- Produtos processados que usem adoçantes como o sorbitol, frequentemente presente em rebuçados, gomas e alguns medicamentos.
Viver com intolerância à frutose
Gerir a intolerância à frutose pode ser desafiante, mas é possível viver bem e com qualidade, com a adoção de algumas estratégias simples:
- Ler os rótulos dos alimentos: verifique a presença de frutose, sacarose e sorbitol.
- Informar os outros: avise amigos, familiares, escolas e restaurantes sobre a intolerância.
- Planear: planeie as refeições com antecedência e, quando sair, leve consigo snacks seguros.
- Considerar a dieta baixa em FODMAP: esta dieta limita alimentos ricos em frutose e outros FODMAP, ajudando a aliviar sintomas digestivos.
- Procurar acompanhamento médico e nutricional: consulte regularmente um médico e um nutricionista para monitorizar a saúde geral, garantir que a dieta é equilibrada e substituir nutrientes ausentes, como vitaminas e fibras provenientes de frutos.
Embora evitar a fruta e outros alimentos ricos em frutose possa parecer difícil, uma abordagem informada e disciplinada permitirá uma alimentação segura e uma qualidade de vida elevada. Com o acompanhamento certo, é possível gerir a intolerância sem grandes restrições ao estilo de vida.