A pílula anticoncecional aumenta ou previne o risco de cancro?
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Indíce
- 1. Pilula vs. Cancro
- 2. Pilula vs. Cancro da mama
- 3. Pilula vs. Cancro endométrico
- 4. Pilula vs. Cancro do ovário
- 5. Pilula vs. Cancro cervical
Ainda existem dúvidas, assim como muita desinformação, sobre os efeitos colaterais da pílula anticoncecional, um método muito eficaz e clinicamente prescrito para controlar a natalidade.
Na verdade, a pílula não tem apenas a vantagem de prevenir a gravidez, uma vez que esta ajuda no alívio das dores menstruais, bem como a tratar alterações na pele, como a acne hormonal, e muito mais.
Algumas investigações científicas demonstraram que existem métodos contracetivos que podem aumentar as hipóteses de desenvolver certos tipos de cancro. Como acontece com todos os medicamentos, existem efeitos positivos e negativos potenciais associados, que afetam cada pessoa de maneira diferente.
Neste artigo, vamos esclarecer se a pílula anticoncecional aumenta ou previne o desenvolvimento de determinadas doenças, como o cancro da mama.
A toma de contracetivos orais e o risco de cancro
Quase todas as investigações sobre a ligação entre contracetivos orais e o risco de cancro provêm de estudos observacionais. Por isso, os dados recolhidos não conseguem estabelecer, de forma definitiva e conclusiva, se os métodos contracetivos, como a pílula, podem causar, ou prevenir, certos tipos de cancro.
Globalmente, os estudos desenvolvidos forneceram evidências consistentes de que os riscos de cancros da mama e do colo do útero aumentam em mulheres que usam contracetivos orais, não se podendo dispensar a influência de outras variáveis neste resultado. Já os riscos de cancros do endométrio, do ovário e o colorretal são reduzidos.
O uso contínuo da pílula causa cancro da mama?
Os estudos desenvolvidos até ao momento sobre a relação entre o cancro da mama e a toma da pílula demonstraram o seguinte:
- Uma análise de dados de mais de 150 mil mulheres que participaram em 54 estudos epidemiológicos mostrou que, em geral, as mulheres que recorreram a contracetivos orais tiveram um ligeiro aumento de 7% no risco de cancro da mama, em comparação com as mulheres que nunca tomaram a pílula. As mulheres que usavam, nessa altura, contracetivos orais, tiveram um aumento de 24% de risco, mas este não aumentou com o prolongamento da toma. O risco diminuiu após a interrupção do uso destes contracetivos orais, não existindo nenhum perigo evidente 10 anos após a interrupção da pílula anticoncecional;
- Uma análise de dados do Nurses' Health Study, que acompanhou mais de 116 mil enfermeiras que tinham entre 24 e 43 anos, quando se inscreveram no estudo, descobriu que as participantes que usaram contracetivos orais poderiam estar mais predispostas para desenvolver cancro da mama. No entanto, este aumento foi observado nas mulheres que tomaram a pílula trifásica, na qual a dose de hormonas é alterada em três fases, ao longo do ciclo menstrual;
- Um estudo dinamarquês relatou riscos de cancro da mama, associados a formulações mais recentes de contracetivos orais. As mulheres que utilizaram ou pararam recentemente de utilizar contracetivos orais tiveram um aumento de cerca de 20% no risco de cancro da mama, em comparação com mulheres que nunca recorreram à pílula anticoncecional. A percentagem do risco de cancro da mama também aumentou com a utilização prolongada da pílula contracetiva.
Em geral, as evidências científicas sugerem que a toma da pílula anticoncecional, por longos períodos, aumenta o risco de alguns tipos de cancro, sendo que este diminui após a interrupção da mesma.
No que diz respeito ao risco de cancro da mama, os resultados são mistos. Algumas conclusões estabeleceram uma ligação entre o uso da pílula contracetiva e uma ligeira predisposição para desenvolver esta doença, embora a percentagem seja muito baixa.
É de realçar que, na época em que estes estudos foram realizados, a posologia do estrogénio contida nas pílulas era muito maior do que as encontradas nas pílulas atuais.
A pílula pode prevenir o cancro do endométrio?
Segundo um estudo divulgado pelo Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos EUA, sobre a relação entre a duração do uso de anticoncecionais orais e determinados tipos de cancro, as mulheres que já os tenham tomado correm menores riscos de desenvolverem cancro do endométrio, relativamente às que nunca o fizeram.
Os investigadores também chegaram à conclusão que:
- O risco é reduzido em, pelo menos, 30%, tendo uma diminuição acrescida se o tempo de toma for prolongado;
- O efeito protetor da pílula persiste por muitos anos, mesmo depois da mulher interromper a toma;
- A redução do risco de cancro do endométrio foi especialmente notória nas mulheres fumadoras, que sofriam de obesidade ou que raramente praticavam exercício.
Qual a relação da pílula com o cancro do ovário?
Segundo dados divulgados pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), as mulheres que usaram contracetivos orais têm, aproximadamente, metade da probabilidade de desenvolver cancro do ovário e do endométrio, em relação àquelas que não o fizeram.
Além disso, os investigadores também consideraram que:
- Quanto mais tempo se usa contracetivos orais, menor é o risco de desenvolver cancro do ovário;
- O efeito protetor da utilização de contracetivos orais persistiu por mais de 10 anos, após a interrupção da toma da pílula.
Para complementar esta informação, uma revisão sistemática divulgado pelo NIH, sobre o papel da pílula anticoncecional como prevenção do cancro do ovário, revelou que:
- Há um menor risco, de 30 a 50%, de desenvolvimento de cancro do ovário em mulheres que usam contracetivos orais;
- Esta proteção aumenta com o tempo da toma e pode persistir por 30 anos, após a interrupção.
Pílula contracetiva e o cancro cervical
Usar contracetivos orais, por cinco ou mais anos, pode aumentar o risco de desenvolvimento de cancro cervical, relativamente às mulheres que nunca tomaram pílulas anticoncecionais.
À semelhança de outros estudos, associados ao cancro da mama, quanto mais tempo os contracetivos orais forem usados, maior é a predisposição para desenvolver cancro cervical. De acordo com alguns dados científicos, os intervalos temporais a considerar são:
- existe um risco de 10%, se a toma da pílula durar menos de 5 anos;
- o risco aumenta em 60%, caso a utilização se prolongue além dos 5 e até aos 9 anos;
- o risco de desenvolver cancro cervical duplica a partir dos 10 ou mais anos de toma.
A pílula anticoncecional reduz o risco de cancro colorretal?
À semelhança de outros cancros, o uso da pílula anticoncecional está associado a menores riscos, de 15% a 20%, de desenvolvimento de cancro colorretal.
Afinal, quais são os efeitos secundários da pílula?
Como ocorre com muitos medicamentos, é natural que a pílula contracetiva provoque efeitos colaterais. Vamos esclarecer as principais questões associadas a este tema.
A pílula afeta negativamente os valores do colesterol?
A pílula anticoncecional pode afetar os níveis de colesterol, mas o impacto está dependente do tipo de pílula, assim como da concentração de estrogénio ou progesterona que a mesma contém.
De forma geral, as pílulas com mais estrogénio podem ter um efeito ligeiramente positivo na regulação dos níveis de colesterol, mas as mudanças não são significativas para afetar a saúde.
A pílula contracetiva pode causar problemas cardiovasculares?
As pílulas combinadas, que contêm estrogénio, podem aumentar a pressão arterial de algumas mulheres, principalmente nas que sofrem de obesidade, de diabetes e/ou são fumadoras.
Há sintomas que podem sugerir problemas cardiovasculares, tais como:
- Dor no peito;
- Problemas respiratórios;
- Dor de cabeça repentina e forte;
- Dor súbita nas costas ou nas mandíbulas acompanhada de suores, náuseas ou dificuldades respiratórias.
Ainda assim, importa esclarecer que estes efeitos colaterais são incomuns na maioria das mulheres. Contudo, quando ocorrem, são potencialmente graves. É por isso que a pílula deve ser prescrita por um médico especialista, que acompanha a evolução e a reação da paciente a este medicamento.
A pressão arterial é afetada pela pílula?
Sim, a pílula anticoncecional pode aumentar, ainda que ligeiramente, a pressão arterial. Para quem já sofre de pressão alta, é recomendável discutir com o médico se deve considerar outro método anticoncecional com menos efeitos secundários.
A pílula contracetiva causa depressão?
Algumas mulheres podem, de facto, sentir alterações de humor, ou até depressão ao longo da toma da pílula. Como o corpo trabalha para manter o equilíbrio hormonal, é possível que as hormonas, induzidas pela pílula, provoquem certas oscilações emocionais.
Este tipo de efeito colateral pode ser mais comum em mulheres que já tiveram episódios depressivos no passado. Porém, ainda existem poucos estudos que comprovem que a pílula anticoncecional afeta diretamente a saúde mental e o bem-estar, no geral.
Os antibióticos podem diminuir a eficácia das pílulas contracetivas?
Depende do antibiótico. Alguns podem interferir com a eficácia da pílula.
É verdade que a pílula pode causar infertilidade?
Há muita confusão e receio generalizado de que a pílula anticoncecional pode provocar infertilidade.
Os contracetivos hormonais não causam infertilidade, independentemente do método usado ou do tempo de utilização do mesmo.
O controlo hormonal da natalidade atrasa a fertilidade e em alguns casos evita a gravidez de forma temporária. Quando se interrompe a toma da pílula contracetiva, os níveis de fertilidade retomam, eventualmente, aos seus níveis anteriores.
Algumas pessoas podem experienciar um atraso na fertilidade depois das hormonas, induzidas pelos contracetivos orais, saírem do organismo. Geralmente, tudo retoma à normalidade dentro de alguns meses até a um ano.
É seguro tomar a pílula após os 35 anos?
Se a mulher é saudável e não tem hábitos tabagistas, não há problema em continuar a usar a pílula anticoncecional após os 35 anos. No entanto, se for fumadora, a toma da pílula é desaconselhada, devido ao risco de doenças cardiovasculares.
Neste último cenário, é necessário parar de fumar antes de prosseguir, com segurança, com a toma do anticoncecional para não sentir efeitos colaterais da pílula.
Como cada caso é específico, também depende se a mulher está a tomar a pílula combinada ou a que contém apenas progestogénio. Mulheres com enxaqueca com aura, por exemplo, não teriam indicação de uso de pílula com estrogénio.
Qual é o anticoncecional com menos efeitos secundários?
Para mulheres que não podem ou não querem, por algum motivo, tomar a pílula anticoncecional, existem outras soluções disponíveis. Claro que a eficácia dos diferentes métodos varia. Portanto, independentemente do método contracetivo escolhido, é sempre necessário recorrer a aconselhamento clínico adequado e personalizado.
DIU e pílula: quais as diferenças?
O Dispositivo Intrauterino (DIU) é inserido no útero, sendo que os DIU podem ser hormonais ou não hormonais. Os hormonais podem durar entre 5 a 7 anos, enquanto os não hormonais podem funcionar até aos 10 anos.
No que diz respeito aos efeitos colaterais, o DIU pode assemelhar-se à pílula anticoncecional. Algumas investigações científicas sugerem que os dispositivos que contêm a hormona levonorgestrel podem aumentar o risco de cancro da mama. No entanto, há outros estudos que sugerem não haver ligação entre ambos.
Por isso, alguns especialistas afirmam que ainda é muito cedo para dizer se os DIU hormonais aumentam o risco de cancro da mama.
Como funcionam as injeções anticoncecionais?
As injeções anticoncecionais contêm progestina, também chamadas progestogénio, uma hormona semelhante à progesterona produzida pelos homens. Este método contracetivo é administrado a cada três meses em mulheres para prevenir a gravidez.
Contudo, ainda não foram efetuados estudos conclusivos e diversificados sobre os efeitos colaterais associados a este tipo de injeções. Algumas investigações científicas sugeriram que estas podem aumentar, ligeiramente, o risco de cancro da mama. Um estudo realizado pela organização Fred Hutchinson Cancer Research Center descobriu que o risco duplica em mulheres com idades compreendidas entre os 20 e os 44 anos.
Anel vaginal ou implante contracetivo?
A utilização de anéis vaginais, em que a mulher pode inseri-lo por 21 dias, retirá-lo por 7 dias e depois inserir novamente um novo dispositivo, pode ter efeitos colaterais semelhantes aos da pílula.
Já o implante anticoncecional, inserido na parte superior do braço, também liberta hormonas para prevenir a gravidez, podendo durar 3 anos. Como método contracetivo, apresenta efeitos colaterais semelhantes aos da pílula anticoncecional.
O preservativo na substituição da pílula anticoncecional
Para mulheres que não se sintam confortáveis com métodos anticoncecionais que contêm hormonas que, posteriormente, são introduzidas no organismo, o preservativo é um método de barreira que evita a gravidez.
Este método contracetivo não tem um impacto direto na regulação hormonal. Por isso, é considerado o anticoncecional com menos efeitos secundários, se não mesmo nenhum (quando bem aplicado).
Além disso, os preservativos podem ajudar a reduzir a propagação do Vírus do Papiloma Humano, também conhecido por HPV, que pode causar cancro do colo do útero, assim como a maioria das infeções sexualmente transmissíveis.
Contudo, o HPV ainda pode ser transmitido através de outras zonas de contacto, não cobertas pelo preservativo.
Os efeitos colaterais da pílula são comuns?
Como a pílula anticoncecional contém hormonas que afetam o corpo humano de várias maneiras, é natural que os efeitos colaterais sejam comuns. Estes variam entre os diferentes tipos de pílula e entre cada pessoa. Geralmente, os efeitos colaterais da pílula anticoncecional diminuem entre dois a três meses, após o início da toma.
Cada mulher reage de maneira diferente a cada comprimido e pode ser necessário experimentar alguns tipos diferentes de pílula, antes de encontrar a ideal.
Se os efeitos da pílula forem graves, atrapalharem o dia a dia ou durarem mais de três meses, é aconselhado falar com o médico para tentar uma marca diferente ou, até mesmo, outro método contracetivo.