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Peso saudável: importa mais o número ou o bem-estar?
• 5 mins. leitura
Indíce
- 1. Qualidade de vida vs. Bem-estar
- 2. O que é um bem-estar?
- 3. Qual o meu peso saudável?
- 4. O que há mais além do IMC?
Será que ter um peso saudável define realmente o nosso bem-estar?
O bem-estar vai muito além do número na balança, envolvendo uma complexa interação entre corpo e mente.
Neste artigo, vamos desmistificar, com base em estudos científicos, a relação entre peso e bem-estar, explorando outros fatores que contribuem para uma vida mais plena.
Qualidade de vida vs bem-estar
Geralmente vista numa escala mais ampla e objetiva do que o bem-estar, a qualidade de vida pressupõe vários componentes:
- Direitos e acessos básicos: como ter acesso à água limpa e potável, dinheiro suficiente para comida, acesso à habitação e assistência médica;
- Avaliação da própria vida: como concretização de objetivos de vida e desafios diários;
- Saúde emocional: como ansiedade, felicidade ou preocupação;
- Ambiente de trabalho: como satisfação laboral ou relacionamento com os colegas;
- Comportamentos saudáveis: como não fumar, comer alimentos saudáveis ou praticar exercício físico regular;
- Saúde física: como dormir bem, obesidade ou outras condições de saúde.
O que é o bem-estar e por que importa?
O bem-estar não é um conceito estático, mas sim um conjunto de competências que podem ser aprendidas ao longo do tempo, à semelhança do que acontece quando aprendemos a andar de bicicleta ou a tocar um instrumento musical.
Segundo o Center for Health Minds, da Universidade do Wisconsin-Madison, há quatro áreas que contribuem para o bem-estar: consciência, conexão, perceção e propósito.
No entanto, o bem-estar pode ser subjetivo. O bem-estar subjetivo assenta no princípio daquilo que faz as pessoas felizes, o que significa que a felicidade pode ter várias formas de demonstração.
O modelo aceite na comunidade científica menciona os seguintes componentes do bem-estar subjetivo:
- Afeto positivo: alegria, êxtase, carinho, felicidade, contentamento e orgulho positivo;
- Afeto negativo: stress, inveja, tristeza, depressão, culpa e vergonha, ansiedade e irritabilidade;
- Satisfação com a vida: desejo de mudar a vida, satisfação com o futuro, satisfação com a vida atual, satisfação com a vida passada e visão de vida de outros significados.
O ponto de partida do conceito de bem-estar está relacionado com o alcance da felicidade individual, que pode assumir diferentes formas.
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Como saber se tenho um peso saudável?
O índice de massa corporal (IMC) é uma medida amplamente utilizada para avaliar se uma pessoa está dentro de um intervalo de peso saudável. Contudo, à semelhança de outras medidas de saúde, o IMC não é uma fórmula perfeita. Os resultados podem ser alterados por gravidez ou massa muscular elevada, e pode não ser uma medida apropriada para crianças ou idosos.
Porém, quanto maior for o IMC, maior é o risco de desenvolver uma série de condições de saúde relacionadas com o excesso de peso, incluindo:
- Vários tipos de cancro, como o da mama, cólon e próstata;
- Pressão alta (hipertensão);
- Doença hepática;
- Apneia do sono;
- Colesterol alto;
- Diabetes;
- Artrite.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase três milhões de pessoas morrem anualmente, a nível global, devido ao sobrepeso ou obesidade.
Assim, o índice de massa corporal pode ser um indicador útil para rastrear a obesidade na população, mas em termos individuais, o peso e o IMC podem funcionar melhor como uma espécie de primeira triagem.
O IMC está correlacionado com os resultados de saúde e mortalidade por uma causa específica, sendo que o seu cálculo pode começar na infância.
Assim, usar o IMC para categorizar a obesidade para prever o risco de doenças crónicas não é um método muito preciso. Outros parâmetros, como medir a circunferência da cintura, podem ser mais úteis.
Posso sentir-me bem, mesmo não tendo um peso saudável?
A relação entre o índice de massa corporal e o bem-estar subjetivo tem sido discutida na literatura empírica.
Segundo uma investigação divulgada no ScienceDirect, focada na população chinesa, esse processo de reforço mútuo apoia a hipótese de que o fardo psicossocial do excesso de peso pode não ser uma realidade na China.
Essa diferença cultural reforça a hipótese de que fatores sociais e culturais desempenham um papel crucial na perceção do peso e no bem-estar.
Ou seja, a intervenção na saúde mental pode ajudar a prevenir o risco de estar abaixo do peso e um cuidado nutricional pode contribuir para uma sociedade mais feliz.
Dessa forma, o IMC e o bem-estar subjetivo parecem influenciar-se mutuamente, apontando para uma relação recíproca.
Outro estudo, focado em quando o peso pode importar mais para uma pessoa, explorou a variação de peso ao longo do tempo para determinar a idade em que este tem um maior impacto.
O mesmo estudo sugere que, para homens acima do peso, o quanto pesam em jovens pode influenciar aspetos da sua vida profissional no futuro, como, por exemplo, o quanto ganham na fase adulta.
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Posso ter um peso saudável e não me sentir bem?
É possível, porque há outros fatores, além de um peso equilibrado, que determinam o bem-estar, tais como:
- Consciência: pessoas com uma maior consciência do que se passa à sua volta podem ter níveis mais altos de bem-estar e emoções positivas, contribuindo também para o bem-estar emocional.
- Conexão: formar primeiras impressões negativas, ou até neutras, pode potencialmente levar à apatia, preconceito e isolamento social.
- Perceção: crenças rígidas e negativas sobre si próprio podem resultar num aumento de transtornos a nível mental, enquanto crenças de aceitação e focadas no crescimento pessoal estão associadas a níveis mais baixos de depressão e ansiedade.
- Propósito: um forte sentimento de propósito pode estar associado a melhores resultados de saúde, incluindo aumento de atividade física, diminuição da incidência de derrames, menos eventos cardiovasculares, redução do risco de morte e menor utilização de serviços de saúde por necessidade.
Além do IMC, que outros parâmetros devem ser medidos?
Há outros parâmetros a ter em conta para o bem-estar geral que não apenas a manutenção de um peso saudável.
Entre eles, incluem-se:
- Medição da pressão arterial: efetuar avaliações médicas de rotina permite avaliar questões como a pressão arterial, que, mesmo que não cause nenhum sintoma, pode prejudicar o coração e vasos sanguíneos;
- Tempo sentado: demasiado tempo sentado faz com que o metabolismo desacelere, o que significa menos calorias queimadas, articulações rígidas e dores nas costas, que impedem o bem-estar geral;
- Horas de sono: uma boa higiene do sono pressupõe dormir entre sete a nove horas por noite, sendo benéfica para o corpo e mente;
- Tempo de ecrã: passar muito tempo ao telemóvel ou a ver televisão pode deixar uma pessoa mais distraída e menos ativa, contribuindo para uma sensação de mal-estar;
- Praticar exercício regular: a atividade física, quando praticada regularmente, aumenta a força dos principais músculos do corpo. Acaba por beneficiar o peso, conseguindo aliá-lo a uma sensação de bem-estar geral.
Como vimos, o bem-estar geral rege-se por vários fatores e nem sempre está relacionado com um peso equilibrado. Cabe a cada pessoa trabalhá-los em si, para se sentir bem consigo própria.