Quão graves são as dores de cabeça nas crianças?

As dores de cabeça nas crianças são comuns e, geralmente, não indicam condições médicas graves.

À semelhança do que acontece com os adultos, as crianças podem desenvolver diferentes tipos de dores de cabeça e podem ter, até, dor de cabeça crónica diária.

Estima-se que 20% das crianças e jovens entre os 5 e os 17 anos possam ter cefaleia. Nessa faixa etária, os tipos mais comuns são as dores de cabeça relacionadas com o stress (15%) e enxaquecas (5%).

É normal que os pais se preocupem quando a criança apresenta dor de cabeça constante, associando-a a um sinal de um tumor cerebral ou a outra condição médica grave. No entanto, menos de 3% das dores de cabeça nas crianças estão associadas a esses problemas.

Criança com dor de cabeça: o que pode ser?

As dores de cabeça nas crianças podem ser provocadas por vários fatores, incluindo:

• Doença e infeção: doenças comuns, como gripe, otite e sinusite, são algumas das causas mais frequentes da cefaleia infantil, apesar de condições mais graves, como as meningites, também poderem provocar dor de cabeça, requerendo atenção médica imediata;
• Fatores emocionais: o stress e a ansiedade, talvez desencadeados por problemas com pais, colegas ou professores, podem fazer com que as crianças sofram com dores de cabeça;
• Demasiada exposição a ecrãs: além de problemas de sono e fadiga ocular, uma criança pode ter dores de cabeça se passar muito tempo a ver televisão ou se usar o telemóvel em demasia;
• Determinados alimentos e bebidas: conservantes alimentares presentes no bacon ou na mortadela, por exemplo, podem causar dores de cabeça, assim como a cafeína, usada em refrigerantes ou em chocolates;
• Predisposição genética: dores de cabeça, principalmente enxaquecas, podem ter uma tendência hereditária;
• Traumatismo craniano: pancadas e hematomas também podem causar cefaleia, mas, se a dor de cabeça da criança piorar constantemente após um ferimento na cabeça, é recomendável procurar ajuda médica;
• Problemas no cérebro: apesar de ser raro, um tumor ou um abcesso cerebral pode pressionar certas áreas do cérebro, causando dores de cabeça crónicas. No entanto, nesses casos, há outros défices neurológicos focais, como tontura, problemas de visão e falta de coordenação.

Sintomas

As crianças têm os mesmos tipos de dores de cabeça que os adultos, mas os sintomas podem divergir.

Por exemplo, a dor de uma enxaqueca num adulto geralmente dura, no mínimo, quatro horas, enquanto numa criança a dor pode durar menos tempo.

As diferenças nos sintomas podem dificultar a identificação do tipo de dor de cabeça, especialmente se a criança for muito pequena, uma vez que não consegue descrever os sintomas.

Em geral, certos sintomas podem enquadrar-se mais frequentemente em categorias específicas, como as que descrevemos a seguir.

Enxaqueca

A enxaqueca é um tipo de cefaleia. Até bebés podem ter enxaquecas, cujos sinais podem ser identificados pelo choro ou por um balanço constante, o que pode indicar dor intensa.

Estima-se que quase 20% dos adolescentes sofram de enxaquecas. Geralmente, existe um histórico familiar deste tipo de cefaleia e algumas pessoas do sexo feminino podem ter enxaquecas relacionadas com o ciclo menstrual.

Embora cada criança possa apresentar sintomas de forma diferente, estes são os mais comuns de uma enxaqueca:

• Dor em um ou ambos os lados da cabeça (algumas crianças podem queixar-se de dor em todo o corpo);
• Dor de cabeça pulsante ou latejante (as crianças pequenas podem não conseguir descrever o que estão a sentir);
• Dor que piora à medida que a criança se mexe;
• Extrema sensibilidade à luz ou ao som;
• Desconforto abdominal;
• Náuseas e/ou vómitos;
• Inatividade, ou palidez;
• Sudorese.

Cefaleia de tensão

As dores de cabeça relacionadas com o stress são o tipo mais comum de cefaleia infantil.

Stress, conflito mental ou emocional são frequentemente fatores desencadeadores de dor, relacionados com as cefaleias de tensão.

Os sintomas mais comuns deste tipo podem incluir:

• Início gradual da dor de cabeça;
• Dor que não piora com atividade física;
• Mudança nos hábitos de sono da criança;
• Tensão opressiva nos músculos da cabeça, ou pescoço;
• Dor leve a moderada, não latejante, em ambos os lados da cabeça;
• Dor de cabeça que não é acompanhada de náuseas ou vómito, como geralmente acontece em caso de enxaqueca.

Uma cefaleia de tensão pode durar 30 minutos ou vários dias.

Cefaleia em salva

Este tipo de dores de cabeça nas crianças geralmente é mais comum em adolescentes do sexo masculino, sendo menos frequente do que as enxaquecas ou as cefaleias de tensão.

Em geral, a cefaleia infantil em salva pode durar semanas ou meses, podendo regressar a cada um ou dois anos.

Os sintomas mais comuns deste tipo podem incluir:

• Ocorrência de cinco ou mais episódios, podendo variar de uma dor de cabeça a cada dois dias a oito por dia;
• Dor aguda e penetrante num lado da cabeça, durando menos de três horas;
• Lacrimejamento, corrimento nasal, inquietação ou agitação;
• Pálpebra descaída, pupila pequena ou vermelha e inchaço da pálpebra;
• Inflamação na testa.

Dor de cabeça crónica diária

Este tipo engloba enxaquecas e cefaleias de tensão que ocorrem mais de 15 dias num mês.

A dor de cabeça crónica diária pode ser causada por uma infeção, traumatismo craniano leve ou uso frequente de analgésicos.

Cefaleia infantil: quando é motivo de preocupação?

A maioria das dores de cabeça não é grave, mas o atendimento médico pode tornar-se necessário nas situações que passamos a descrever.

1. A dor de cabeça acorda a criança do sono

Às vezes, as crianças acordam do sono por outros motivos e, apenas nesse instante, apercebem-se que estão com dores de cabeça. Isso não é indicador de algo mais grave.

Se, pelo contrário, a dor em si acordar a criança do sono, é aconselhável procurar ajuda médica, uma vez que não se trata de uma dor comum.

2. A personalidade da criança é afetada

Crianças com dor de cabeça e anormalmente sonolentas, ou com dificuldades para andar, falar ou realizar quaisquer atividades normais, devem ser observadas clinicamente.

Pode ser apenas um vírus, mas é recomendável verificar os sinais e sintomas com o médico.

3. A criança vomita persistentemente

A dor de cabeça, quando acompanhada por vómitos frequentes ou persistentes, especialmente na ausência de outros sinais de doença como febre ou diarreia, pode ser indicativa de algum problema de saúde.

Mais uma vez, pode ser apenas um vírus, como também pode ser sinal de alguma patologia mais grave.

No entanto, como o vómito persistente pode significar o aumento da pressão intracraniana, é aconselhável observação médica urgente.

4. A dor de cabeça é frequente

Quando as dores de cabeça são frequentes ou interferem com a vida diária da criança, é motivo de preocupação.

Ter dores de cabeça duas ou mais vezes por semana não significa necessariamente que seja um problema de saúde grave, mas é recomendável consultar o médico para ter a certeza.

Uma criança com dor de cabeça constante não consegue realizar as atividades habituais, pelo que o médico pode indicar formas de a controlar e até de a prevenir.

5. Surge dor no pescoço e febre

Febre e rigidez no pescoço, aquando de uma dor de cabeça, devem merecer atenção médica.

A criança deve ser capaz de olhar para o teto, colocar o queixo sob o peito e balançar a cabeça para a frente e para trás.

Se a criança não conseguir fazer nenhum desses movimentos, procure imediatamente ajuda médica, para ter a certeza de que não se trata de meningite.

6. A dor é severa

Se uma criança está sob o efeito de analgésicos e, mesmo assim, continua com dor de cabeça severa e latejante, deve ser observada pelo médico.

7. A dor de cabeça piora quando a criança está deitada

A maneira mais fácil de perceber este caso é que a dor de cabeça piora logo de manhã e melhora ao longo do dia.

Isso é o oposto da maneira como a maioria das dores de cabeça ocorre e pode ser um sinal do aumento da pressão no cérebro.

Quando é observado este padrão de dores de cabeça nas crianças, é recomendável procurar ajuda médica.

Há algum remédio para dor de cabeça infantil?

Não há nenhum remédio milagroso para a dor de cabeça infantil.

No entanto, existem tratamentos médicos que podem aliviar a dor das crianças e adolescentes, incluindo:

• Medicamentos;
• Gestão do stress, como exercícios de respiração profunda ou terapia;
• Mudanças no estilo de vida, como dormir bem e hidratar-se corretamente;
• Educação sobre dores de cabeça, conhecendo os gatilhos que podem levar à sua origem, como alimentos específicos ou bebidas com cafeína.

O tratamento médico pode depender do tipo de dor de cabeça da criança. Podem ser prescritos medicamentos, mudanças na dieta, exercício físico ou descanso num ambiente silencioso e escuro.

As enxaquecas podem exigir tratamento medicamentoso específico, nomeadamente:

• Medicamentos concretos, que agem em recetores específicos nos vasos sanguíneos da cabeça e podem interromper uma dor de cabeça ativa;
• Medicamentos preventivos, prescritos pelo médico, que são tomados diariamente para reduzir o início de enxaquecas graves;
• Medicamentos sem prescrição, como analgésicos, para interromper a dor de cabeça.

Algumas dores de cabeça nas crianças podem exigir atenção médica imediata, incluindo hospitalização para observação, testes diagnósticos ou até cirurgia.

O tratamento é individual mediante a extensão da condição subjacente que causa a dor de cabeça, o tipo de dor, assim como outros problemas médicos que possam estar presentes.

Prevenção

Há medidas que podem ajudar a prevenir as dores de cabeça nas crianças, apesar de não as impedirem completamente.

Algumas medidas preventivas englobam:

• Adotar comportamentos saudáveis, como dormir bem, comer refeições saudáveis, beber água e limitar a cafeína;
• Registar as dores de cabeça, ou seja, quando começam, quanto tempo duram e o que pode ter contribuído para aliviá-las;
• Reduzir o stress, já que uma criança demasiado ocupada ou com problemas na escola pode ser mais suscetível a ter dores de cabeça;
• Seguir o plano médico, caso sejam prescritos medicamentos preventivos para dores de cabeça. Alguns medicamentos podem reduzir a frequência e a gravidade da dor.
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