Tendinite ou tendinose? Entenda as principais diferenças
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Indíce
- 1. Diferenças
- 2. Tendinite
- 3. Tendinose
- 4. Sintomas Tendinite
- 5. Sintomas Tendinose
Quando sentimos dor nos tendões, podemos estar perante uma tendinite ou tendinose. É comum pensar que se trata de uma inflamação, como a tendinite, mas nem sempre é o caso. Muitas vezes, o problema pode ser uma tendinose, uma condição mais complexa.
Para entender as diferenças, é importante saber que são duas formas de tendinopatia. Ou seja, ambas afetam os tendões, mas têm caraterísticas distintas. Neste artigo, explicamos no que consiste cada uma destas condições, quais os sintomas, causas, como é feito o diagnóstico, quais os tratamentos possíveis e também como as prevenir.
Diferenças entre tendinite e tendinose
A tendinite e a tendinose são condições frequentemente confundidas, uma vez que partilham sintomas semelhantes. No entanto, existem diferenças importantes entre as duas, tanto na sua origem como no seu tratamento e recuperação. Ambas fazem parte de um grupo de condições nos tendões conhecidos como tendinopatias.
O que é tendinite?
A tendinite é uma inflamação do tendão, normalmente após uma lesão ou esforço excessivo num curto período de tempo. Esta inflamação é uma resposta do corpo a microrruturas no tendão, que ocorrem quando este é sobrecarregado, seja por movimentos repetitivos, tensão ou até uma força súbita e inesperada.
A recuperação da tendinite é, em regra, mais rápida do que a da tendinose, normalmente entre 2 a 3 semanas, especialmente com o tratamento adequado.
O que é tendinose?
A tendinose é uma condição crónica causada pela degeneração do tendão ao longo do tempo, em resposta ao uso repetitivo, lesão antiga ou cicatrização inadequada. Ao contrário da tendinite, não envolve inflamação, mas sim o desgaste das fibras de colagénio que compõem o tendão, enfraquecendo-o e tornando-o suscetível a lesões.
Esta degeneração ocorre gradualmente, resultando em danos que, muitas vezes, só são visíveis ao microscópio.
A recuperação da tendinose demora mais tempo, geralmente entre 3 a 6 meses, e requer tratamentos que estimulam a regeneração do tendão.
Sintomas da tendinite e tendinose
Embora os sintomas de tendinite e tendinose sejam parecidos, existem diferenças importantes a considerar.
Podem causar dor nas mesmas áreas do corpo, mas cada uma apresenta caraterísticas distintas na região afetada. A dor pode desenvolver-se lentamente e aumentar progressivamente ou pode surgir de maneira súbita e intensa.
Sintomas da tendinite
Entre os sintomas mais comuns da tendinite incluem-se:
- Dor no tendão, que piora com o movimento. Esta dor é frequentemente descrita como uma dor surda e pode intensificar-se à medida que o membro ou a articulação afetada se movimenta.
- Dificuldade em mover a articulação afetada, o que pode limitar atividades diárias simples.
- Inchaço e inflamação, muitas vezes acompanhados de calor, vermelhidão ou descoloração na área afetada. Este inchaço pode ser leve, mas visível.
- Sensibilidade e dor ao toque no local, sendo comum aumentar quando a área é pressionada.
- Impressão de rangido ou estalido ao mover a articulação afetada, o que pode causar desconforto adicional.
Os sintomas tendem a surgir no ponto onde o tendão se liga ao osso. Rigidez ao acordar ou após longos períodos de descanso também é um sintoma frequente, dificultando a mobilidade.
A tendinite requer atenção, principalmente se a dor e os sintomas persistirem, uma vez que pode afetar significativamente a qualidade de vida.
Sintomas da tendinose
Os sintomas da tendinose podem ser persistentes e difíceis de gerir, sendo estes os mais comuns:
- Dor persistente na área do tendão e zona circundante. Esta dor pode ser sentida como uma dor ardente ou sensação de queimadura, e tende a agravar-se durante e após a atividade física. A dor pode durar vários meses e aumentar gradualmente, sendo mais intensa ao movimentar ou tocar na área afetada.
- Rigidez na articulação afetada, dificultando a realização de certos movimentos e diminuindo a amplitude de movimento. Esta rigidez pode ser particularmente notada após períodos de repouso prolongado.
- Inchaço leve na zona afetada, que pode ser acompanhado de vermelhidão e calor. Estes sintomas devem ser observados com cuidado, pois, caso sejam muito pronunciados, podem indicar uma infeção.
- Sensação de ranger ou estalar ao mover a articulação, muitas vezes desconfortável e associada a uma perda de flexibilidade.
- Fraqueza muscular e diminuição da força na área afetada, o que pode dificultar tarefas simples do dia a dia.
Em alguns casos, pode sentir um caroço sensível na área do tendão, indicando uma alteração na textura do tecido tendinoso.
Nos casos mais graves, pode ocorrer uma condição conhecida como capsulite adesiva ou "ombro congelado", em que o movimento da articulação fica severamente comprometido.
O acompanhamento médico adequado da tendinose é fundamental para evitar o agravamento da condição.
Causas e fatores de risco da tendinite e tendinose
Os tendões, que ligam os músculos aos ossos, desempenham um papel crucial no movimento do corpo, absorvendo os impactos de atividades como correr ou saltar. Embora sejam resistentes, a sua falta de elasticidade torna-os vulneráveis a lesões.
Tanto a tendinite como a tendinose são geralmente causadas pelo uso excessivo e repetitivo dos tendões, seja em atividades profissionais, desportivas ou domésticas e também devido ao natural processo de envelhecimento.
No entanto, a tendinite resulta de uma inflamação aguda, enquanto a tendinose é provocada pelo desgaste e degeneração gradual do tendão.
Os tendões mais afetados por tendinite e tendinose são:
- Tendão de Aquiles (na parte de trás do calcanhar);
- Tendão patelar (liga a rótula à tíbia);
- Tendões glúteos (na parte externa das ancas);
- Tendão extensor do punho (na parte externa do cotovelo, conhecido como "cotovelo de tenista");
- Manguito rotador (no ombro, responsável pela rotação).
Também podem ser afetados os tendões dos pulsos, dedos, bíceps e pés.
Principais causas diretas da tendinite
A tendinite pode ter diversas causas, sendo que, em muitos casos, a origem exata do problema não é conhecida. Porém, existem causas comuns que contribuem para o seu desenvolvimento, tais como:
- Inflamação: ao contrário da tendinose, a tendinite é resultado de uma inflamação e inchaço do tendão, sem haver danos microscópicos nas fibras do colagénio. Esta inflamação pode surgir como resposta a uma sobrecarga ou esforço prolongado do tendão.
- Uso excessivo: movimentos repetitivos constantes, muitas vezes associados a atividades profissionais, são uma das principais causas de tendinite. Trabalhadores da construção, músicos, jardineiros, carpinteiros e pessoas que realizam tarefas repetitivas estão em maior risco.
- Tensão e sobrecarga: atividades que exigem esforço físico repetido ou intenso, como o levantamento de pesos, podem colocar tensão adicional sobre os tendões, especialmente se a pessoa não realizar um aquecimento adequado antes da atividade.
- Lesões súbitas: movimentos bruscos e intensos, como saltar, correr ou lançar objetos, podem provocar lesões nos tendões, resultando em inflamação. A tendinite também pode ser causada por uma lesão súbita, mas é mais frequentemente associada ao uso repetitivo de uma articulação.
- Movimentos incorretos: a execução de movimentos com má postura ou técnica inadequada, seja no desporto ou no trabalho, pode aumentar significativamente a pressão sobre os tendões, provocando inflamação e dor.
Fatores de risco
Além das causas diretas, há vários fatores que podem aumentar o risco de desenvolver tendinite:
- Idade: à medida que as pessoas envelhecem, os tendões tornam-se menos flexíveis e mais suscetíveis a lesões, aumentando o risco de tendinite em adultos mais velhos.
- Trabalho: ocupações que envolvem movimentos repetitivos, posições corporais desconfortáveis, sobrecarga constante ou exposição a vibrações aumentam o risco de tendinite. Jardineiros, trabalhadores manuais e operários de linhas de montagem são exemplos de profissões em risco.
- Atividades físicas inadequadas: aumentar repentinamente a intensidade ou a duração de um treino, usar equipamento inadequado, como calçado velho, ou praticar em superfícies duras (como betão) são fatores que podem contribuir para o desenvolvimento de tendinite. Além disso, a falta de tempo de recuperação entre os treinos ou o regresso prematuro à atividade física após uma lesão aumenta o risco de inflamação nos tendões.
- Condições médicas e medicamentos: certas doenças, como a diabetes, podem aumentar a predisposição para tendinite. Além disso, alguns medicamentos, como antibióticos fluoroquinolonas, corticosteroides e inibidores da aromatase (usados na prevenção do cancro da mama), estão associados a um maior risco de problemas nos tendões.
Principais causas diretas da tendinose
Ao contrário da tendinite, que está associada a inflamação, a tendinose ocorre devido ao desgaste do tendão, muitas vezes sem sinais inflamatórios. As causas mais frequentes incluem:
- Trauma: um trauma físico, como uma queda ou uma lesão durante a prática desportiva, pode provocar danos nos tendões, resultando na desorganização das fibras de colagénio e, eventualmente, em ruturas. Quando estas lesões não cicatrizam corretamente, podem evoluir para tendinose.
- Uso excessivo: a repetição constante de movimentos que sobrecarregam os tendões é uma das causas mais comuns de tendinose. Atividades simples e repetitivas, como clicar no rato do computador ou escrever ao teclado, podem levar ao desgaste gradual dos tendões.
- Osteoartrite: nas pessoas com osteoartrite, o desgaste das articulações e da cartilagem pode também afetar os tendões circundantes, tornando-os mais suscetíveis a lesões e, consequentemente, à tendinose.
- Envelhecimento: com o avanço da idade, o corpo humano produz menos colagénio, atrasando a capacidade de regeneração dos tendões. Este declínio na capacidade de cicatrização é uma das principais causas de tendinose nas pessoas mais velhas.
- Fluoroquinolonas: este tipo de antibiótico, utilizado no tratamento de infeções bacterianas, pode aumentar o risco de danos nos tendões, especialmente em adultos mais velhos e em pessoas com fatores de risco, como uso crónico de corticosteroides.
- Obesidade e diabetes: a tendinose é mais comum em pessoas com excesso de peso ou com diabetes tipo 2, uma vez que estas condições aumentam a pressão sobre os tendões e podem comprometer a sua capacidade de regeneração.
Fatores de risco
Há, ainda, alguns fatores que aumentam a probabilidade de desenvolver tendinose:
- Movimentos repetitivos: a repetição contínua de certos movimentos, como os realizados por trabalhadores manuais, jardineiros, carpinteiros ou programadores informáticos, pode causar microtraumas repetidos nos tendões, levando à tendinose.
- Má postura e anomalias estruturais: posições corporais incorretas ou desalinhamentos ósseos e articulares (como diferenças no comprimento das pernas ou artrite) podem sobrecarregar os tendões e predispor ao desenvolvimento de tendinose.
- Atividades físicas e desportivas: desportos como o ténis, golfe, esqui e atividades que envolvem lançamentos repetidos, como o arremesso, são causas frequentes de tendinose, especialmente se forem realizadas sem aquecimento adequado ou com técnica incorreta.
- Condições médicas: certas doenças, como artrite psoriática, artrite reumatoide, gota e disfunções da tiroide, podem aumentar o risco de tendinose. Estas condições causam frequentemente inflamação e stress nos tendões, afetando a sua regeneração.
- Desportistas de fim de semana: pessoas que realizam atividade física intensa apenas aos fins de semana, sem a preparação física adequada durante a semana, estão particularmente em risco de desenvolver tendinose, devido à sobrecarga súbita e repetitiva sobre tendões pouco habituados ao esforço.
- Infeções: em casos raros, uma infeção, como uma mordedura de animal, pode danificar os tendões e resultar em tendinose, especialmente nas mãos e dedos.
Diagnosticar a tendinite e a tendinose
As duas condições são fáceis de identificar com testes simples. O diagnóstico começa com uma avaliação clínica detalhada do historial clínico e exame físico para identificar a área de dor e possíveis limitações de movimento.
Em casos mais complexos ou para confirmar o diagnóstico, podem ser solicitados exames de imagem, como ecografia e ressonância magnética, para verificar a presença de inflamação ou degeneração dos tendões.
Opções de tratamento para a tendinite e tendinose
O tratamento da tendinite e da tendinose varia conforme a gravidade da condição e os danos causados aos tendões.
No caso da tendinite, o foco está na redução da inflamação e na prevenção de mais danos, enquanto o tratamento da tendinose visa a reparação dos danos acumulados ao longo do tempo nos tendões.
É importante procurar aconselhamento médico ao notar os primeiros sintomas de tendinite ou tendinose. Embora a tendinite possa ser tratada em poucas semanas, a tendinose exige cuidados a longo prazo e a recuperação pode demorar meses.
Podem ser necessários tratamentos como fisioterapia, alongamentos, exercícios específicos e, em alguns casos, cirurgias, para evitar complicações e garantir uma recuperação eficaz.
Tratamento da tendinite
A tendinite, sendo uma inflamação aguda dos tendões, pode ser tratada de várias maneiras para aliviar a dor e a inflamação. As opções incluem:
- Aplicar gelo: a aplicação de gelo na área afetada, até 20 minutos a cada 2 a 3 horas, ajuda a reduzir a inflamação e a dor.
- Descanso: evitar mover a área afetada durante 2 a 3 dias é fundamental para permitir que o tendão se recupere.
- Suporte: envolver a área com uma ligadura elástica ou utilizar uma cinta pode fornecer suporte ao tendão, mas é importante garantir que a ligadura não está demasiado apertada.
- Injeções de corticosteroides: estas injeções podem ser utilizadas para reduzir a inflamação e aliviar a dor e o inchaço a curto prazo. No entanto, o uso prolongado pode prejudicar a produção de colagénio, pelo que não é recomendado para tendinose.
Tratamento da tendinose
A tendinose, sendo uma condição crónica associada ao desgaste e à degeneração do tendão, precisa de um tratamento mais longo e focado na regeneração do tecido, nomeadamente:
- Alongamentos: os exercícios de alongamento ajudam a aumentar a amplitude de movimento e a promover uma melhor circulação sanguínea para o tendão afetado.
- Descanso: evitar movimentos repetitivos e realizar pausas regulares durante as atividades que causam tensão nos tendões ajuda a reduzir o esforço contínuo e a acelerar a recuperação.
- Suporte ou fita adesiva: o uso de fitas adesivas ou suporte específico ajuda a estabilizar a área lesada e evitar movimentos que possam agravar o tendão.
- Massagens: a massagem na área afetada pode promover o fluxo sanguíneo, facilitando a recuperação.
- Exercícios excêntricos: estes exercícios ajudam a estimular o tendão e podem promover a regeneração do colagénio. Fortalecer os músculos à volta do tendão também reduz a carga sobre este.
- Suplementos: vitaminas e suplementos como vitamina C, glucosamina, sulfato de condroitina, peptídeos de colagénio, L-arginina e açafrão podem ajudar a reparar os tendões danificados e prevenir a sua deterioração adicional. Contudo, apenas devem ser tomados mediante indicação médica.
- Fisioterapia: um fisioterapeuta pode desenvolver um programa de exercícios personalizados para fortalecer os tendões e promover a sua recuperação.
- Injeções de plasma rico em plaquetas: este tratamento utiliza o plasma do próprio paciente, para acelerar a recuperação e promover a regeneração dos tecidos lesados.
- Cirurgia: em casos graves, onde os tratamentos conservadores não são eficazes, pode ser necessário remover o tecido danificado mediante cirurgia.
Dicas para prevenir tendinite e tendinose
Embora seja essencial consultar um especialista para diagnóstico e tratamento adequados, existem algumas medidas preventivas que podem ajudar a reduzir o risco de desenvolver tendinite ou tendinose:
- Aquecimento adequado: antes de qualquer atividade física ou esforço repetitivo, faça um aquecimento apropriado para preparar os músculos e tendões.
- Fortalecimento muscular: manter os músculos fortes e flexíveis pode reduzir a tensão sobre os tendões.
- Descanso: dê tempo de recuperação aos tendões após atividades repetitivas ou intensas. O descanso é essencial para prevenir lesões.
- Postura correta: tanto no trabalho como em atividades físicas, adotar uma postura adequada evita a sobrecarga nos tendões.
- Uso adequado de equipamento: certifique-se de que o equipamento desportivo ou de trabalho está ajustado corretamente, para não exigir um esforço excessivo.
Tendinite ou tendinose: qual é mais grave?
A tendinose é, normalmente, considerada mais grave do que a tendinite. Ambas são formas de tendinopatia, mas a tendinose é uma condição degenerativa que se desenvolve ao longo do tempo, podendo tornar-se crónica.
Enquanto a tendinite é uma inflamação aguda causada por sobrecarga ou lesão súbita, a tendinose reflete o desgaste progressivo das fibras do tendão, o que dificulta e prolonga a recuperação.
A tendinite, por ser uma inflamação, pode ser tratada rapidamente e ficar resolvida em poucas semanas. Apesar de a dor ser uma experiência subjetiva e variar de pessoa para pessoa, a tendinose tende a ser mais difícil de tratar e a recuperação é mais demorada. Além disso, se não for tratada corretamente, pode evoluir para complicações graves, como a rotura de tendões.
Lembre-se que, para qualquer uma das condições, é importante consultar um ortopedista, para um diagnóstico e plano de tratamento adequado.