
Obesidade infantil: como promover hábitos saudáveis nos mais novos
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Indíce
- 1. O que é?
- 2. Infantil vs adultos
- 3. Como saber se tem excesso de peso?
- 4. Causas e fatores
- 5. Tratamentos
A obesidade infantil é um problema de saúde pública que afeta crianças em todo o mundo. Com o aumento do número de casos, torna-se essencial compreender as causas, consequências e soluções para este problema.
Crianças com excesso de peso têm uma maior probabilidade de se tornarem obesas quando adultas. Isto pode levar a condições crónicas, como a diabetes tipo 2.
Fazer alterações na dieta e nos níveis de atividade pode ajudar os mais novos a atingir um peso saudável.
Fique a saber mais sobre esta patologia, como é diagnosticada e quais as melhores formas de prevenção e tratamento.
O que é a obesidade infantil?
A obesidade infantil ocorre quando uma criança tem mais gordura corporal do que o considerado normal para a sua idade e sexo, o que pode prejudicar a sua saúde e bem-estar.
Uma criança com obesidade está na faixa de peso mais elevada para a sua idade, enquanto uma criança com excesso de peso tem uma massa corporal ligeiramente acima do intervalo saudável.
Para determinar se uma criança tem excesso de peso ou obesidade, utiliza-se frequentemente o índice de massa corporal (IMC) infantil, ajustado à idade e ao sexo.
Segundo o relatório Childhood Obesity Surveillance Initiative (COSI) Portugal 2022, cerca de 31,9% das crianças portuguesas, entre os 6 e os 8 anos, apresentavam excesso de peso, incluindo 13,5% com obesidade. Estes dados sublinham a importância de abordar este problema desde cedo.
A obesidade infantil é diferente da dos adultos?
Embora a definição de obesidade seja semelhante, as suas implicações em crianças diferem das dos adultos. Uma criança com obesidade pode enfrentar consequências negativas mais cedo e estas podem prolongar-se por muito mais tempo.
Durante a fase de crescimento, o excesso de peso pode interferir no desenvolvimento físico e emocional, causando impactos graves a curto e longo prazo.
Além disso, as crianças com obesidade têm maior probabilidade de se tornarem adultos obesos, enfrentando riscos aumentados de doenças crónicas como diabetes tipo 2, hipertensão e problemas cardiovasculares.

Como saber se uma criança tem excesso de peso?
O cálculo do IMC é uma ferramenta essencial para avaliar se uma criança tem excesso de peso ou obesidade. O IMC é calculado dividindo o peso (em quilogramas) pela altura (em metros) ao quadrado.
No entanto, ao contrário dos adultos, nas crianças, os resultados devem ser interpretados com base em tabelas de percentis que consideram a idade e o sexo, porque a composição corporal muda naturalmente à medida que crescem.
Por exemplo, uma criança com 2 anos ou mais, se tiver um IMC acima do percentil 95, é considerada obesa, enquanto entre os percentis 85 e 95 é classificada como tendo excesso de peso.
Consultar um profissional de saúde é fundamental para um diagnóstico correto. Os profissionais de saúde utilizam gráficos de crescimento especiais para avaliar um IMC saudável para crianças.
Causas e fatores de risco da obesidade infantil
É importante reconhecer que a obesidade infantil não se desenvolve apenas por preguiça ou falta de força de vontade. Trata-se de uma condição resultante de múltiplos fatores.
Hábitos alimentares pouco saudáveis
O consumo excessivo de alimentos ricos em açúcares, gorduras e calorias, como fast food, alimentos processados e bebidas açucaradas, é um dos principais contribuidores.
Sedentarismo
A falta de atividade física regular, conjugada com um tempo excessivo em frente a ecrãs (televisão, telemóveis, tablets), promove o ganho de peso.
Fatores genéticos e hormonais
A predisposição genética, que pode ser herdada de pais ou outros familiares com historial de obesidade, e alterações hormonais, como as causadas pelo hipotiroidismo ou por síndromes genéticas específicas, podem aumentar o risco de obesidade.
A diabetes gestacional também aumenta o risco de obesidade infantil.
Fatores psicológicos
Stress, ansiedade, sono inadequado e outros problemas emocionais podem influenciar o apetite e o tipo de alimentos consumidos, favorecendo escolhas pouco saudáveis.
Determinados medicamentos
Alguns medicamentos podem aumentar o risco de ganho de peso. Entre estes, encontram-se prednisona, lítio, amitriptilina, paroxetina, gabapentina, propranolol, quetiapina, carbamazepina, medroxiprogesterona, olanzapina e risperidona.
O médico da criança poderá ajustar, se possível, a dose ou prescrever uma alternativa.
Ambiente social e cultural
A ausência de espaços seguros para brincadeiras ao ar livre, a fácil acessibilidade a alimentos pouco nutritivos, a exposição a publicidade de alimentos processados e a falta de educação alimentar são fatores determinantes para a obesidade infantil.
Consequências da obesidade infantil
A obesidade infantil é uma condição complexa e preocupante, com impactos significativos na saúde física, emocional e social das crianças.
Impactos na saúde física
Algumas das complicações de saúde incluem:
- Diabetes tipo 2: é uma condição crónica frequentemente associada ao excesso de peso.
- Hipertensão e colesterol elevado: aumentam o risco de doenças cardiovasculares, como ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (AVC).
- Problemas respiratórios: crianças obesas têm maior propensão para asma e apneia do sono, uma condição grave que interfere na qualidade do sono.
- Dores nas articulações: o peso excessivo causa stress adicional nas ancas, joelhos e tornozelos, resultando em dor ou lesões.
- Doença hepática esteatótica (fígado gordo): a acumulação de gordura no fígado pode levar a danos graves a longo prazo, mesmo sem sintomas iniciais.
Impactos emocionais e sociais
A obesidade pode afetar o bem-estar emocional, resultando em baixa autoestima, ansiedade e depressão, prejudicando a confiança da criança.
As crianças obesas são frequentemente alvo de bullying e estigmatização, o que pode levar à exclusão social e reforçar ciclos de isolamento e comportamentos pouco saudáveis.
Riscos a longo prazo
Se não for controlada, a obesidade infantil tende a prolongar-se até à idade adulta, aumentando o risco de problemas de saúde graves, como doenças cardíacas, diabetes tipo 2, obesidade mórbida, síndrome do ovário poliquístico ou excesso de hormonas masculinas (hiperandrogenismo).
Pode, inclusivamente, levar a alterações no cérebro, comprometendo funções cognitivas.
Tratamento da obesidade infantil
A obesidade infantil é uma condição que exige uma abordagem multidisciplinar e personalizada, ajustada às necessidades de cada criança e da sua família.
O principal objetivo do tratamento é promover mudanças sustentáveis no estilo de vida que melhorem a saúde a curto e longo prazo.
O primeiro passo consiste em consultar um médico para avaliar o peso da criança, determinar a presença de problemas de saúde associados e identificar possíveis causas subjacentes. Caso necessário, podem ser realizadas análises ou outros exames para avaliar complicações ou fatores relacionados com a obesidade.
O tratamento tem por base, sobretudo, mudanças no estilo de vida, tais como:
- Reeducação alimentar com a introdução de uma alimentação equilibrada e variada, rica em fruta, vegetais, cereais integrais e pobre em açúcares e gorduras saturadas.
- Aumento da atividade física, incentivando as brincadeiras ao ar livre, redução do tempo de ecrã e promoção da prática regular de desportos.
- Apoio psicológico para ajudar a criança a lidar com questões emocionais, como baixa autoestima, ansiedade ou stress, frequentemente associados ao excesso de peso.
Em casos mais graves, podem ser necessárias intervenções complementares, como:
- Medicamentos, utilizados para auxiliar na perda de peso, sempre sob rigorosa orientação médica.
- Cirurgia bariátrica, uma solução rara, reservada para situações extremas em adolescentes, que apresentam obesidade severa e complicações de saúde graves.
O sucesso do tratamento depende do compromisso da família e da criança com mudanças de longo prazo. O acompanhamento médico regular é essencial para monitorizar a evolução, ajustar o plano de tratamento e identificar precocemente quaisquer complicações médicas ou emocionais.

Como promover hábitos saudáveis nos mais novos?
Com a adoção de algumas estratégias, os pais e familiares podem desempenhar um papel crucial na prevenção e apoio às crianças para atingirem um peso saudável.
Promova hábitos saudáveis desde cedo
Estabeleça rotinas alimentares equilibradas. Faça refeições em família sempre que possível, longe de distrações, como televisão ou telemóveis.
Priorize alimentos frescos e naturais, como fruta, legumes, cereais integrais, proteínas magras e laticínios com baixo teor de gordura.
Evite alimentos ultraprocessados ricos em açúcares, sal e gorduras saturadas.
Eduque sobre nutrição
Explique às crianças a importância de escolhas saudáveis, utilizando expressões positivas como "alimentos que nos dão energia e força".
Envolva os mais novos na escolha e preparação das refeições para estimular a curiosidade e o interesse por alimentos saudáveis.
Incentive a saciedade consciente. Ensine as crianças a comer apenas quando têm fome e a parar quando estão satisfeitas, em vez de insistir em "limpar o prato".
Incentive a atividade física
Planeie caminhadas, passeios de bicicleta ou jogos ao ar livre que envolvam toda a família. Utilize espaços como parques, trilhos pedestres ou ciclovias para promover o exercício físico.
Reduza o tempo sedentário, como ver televisão ou jogar videojogos, e limite o tempo de ecrã a no máximo 2 horas por dia para crianças em idade escolar.
Apoie a prática de desportos. Inscreva o seu filho em atividades de que goste, como futebol, dança ou natação.
Dê o exemplo, mostre à criança que a atividade física é divertida e benéfica, praticando-a regularmente.
Estabeleça rotinas de sono
Estabelecer rotinas de sono é vital na prevenção da obesidade. Garanta que a criança:
- Respeita um horário regular para dormir, incluindo aos fins de semana.
- Evita o uso de dispositivos eletrónicos antes de dormir.
- Dorme o número de horas recomendado.
Desenvolva um ambiente de apoio e encorajamento
Evite focar-se no peso. Concentre-se em promover hábitos saudáveis e não em números na balança. Use linguagem positiva e evite comparações com outras crianças.
Envolva toda a família. Faça das mudanças nos hábitos alimentares e de atividade física um esforço coletivo, beneficiando todos os membros da família.
Evite usar comida como recompensa. Prefira reforços positivos como elogios ou atividades divertidas para comemorar as conquistas.
Uma abordagem preventiva e integrada é essencial. Alimentação equilibrada, prática regular de exercício físico e rotinas saudáveis são fundamentais para prevenir e tratar a obesidade infantil. Além disso, é importante oferecer apoio emocional e combater a estigmatização, garantindo que as crianças cresçam com saúde e confiança.
Se as alterações no estilo de vida não resultarem, ou se a criança estiver acima do peso saudável, consulte um profissional de saúde.